Em entrevista à TSF, Ferro Rodrigues avisa que "seria irresponsável" uma crise no Orçamento de 2021, quando o Parlamento não pode ser dissolvido. Mas acredita que "ninguém ganharia" com esse cenário".
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O Presidente da Assembleia da República admite que "não costuma ser otimista" mas não antevê que o ano de 2021 traga uma crise política.
Ferro Rodrigues acredita que tudo vai depender da "responsabilidade de cada uma das forças partidárias e das convicções que tiver em sobre como o país e os eleitores iriam encarar uma crise, quem iriam responsabilizar e que consequências tirariam em matéria de eventual voto antecipado". É dessa leitura que chega à conclusão :"Não me parece que no ano de 2021 venhamos a ter qualquer crise política", afirma o Presidente do Parlamento em entrevista à TSF, a propósito do debate sobre o Estado da Nação.
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Fica, no entanto, um aviso: o momento da discussão do Orçamento de Estado para 2021 vai acontecer "num momento em que o Parlamento não pode ser dissolvido".
"O Orçamento tem de entrar (no Parlamento) até 15 de outubro e a partir de 9 de setembro o Presidente da República não pode dissolver o parlamento", lembra Ferro para considerar que uma crise não serviria ao país ou aos partidos.
"Seria muito grave e uma irresponsabilidade porque criaria uma situação de crise que se arrastava durante meses e meses. Nesta situação em que está o mundo e o país está, não me parece que alguém ganhasse com essa crise arrastada."
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Questionado sobre o primeiro voto contra do PCP num orçamento (suplementar) desde que António Costa chegou ao Governo, Ferro Rodrigues desdramatiza e acredita que a anunciada abstenção do PSD contribuiu para "libertar o voto do PCP".
"Eu assisti a evolução dos acontecimentos, mas houve um facto novo: foi o PSD ter dito, logo no início, que viabilizava o orçamento. Quando um partido diz, à partida, que viabiliza o orçamento, liberta os outros partidos para assumirem posições sem risco de crise", justifica o Presidente do Parlamento.
Mais do que haver um acordo "escrito ou não", para Ferro Rodrigues, importante é os protagonistas "saberem em que terreno se estão a movimentar", embora admita que a ausência de acordo prévio (como aconteceu na última legislatura), leva a uma tendência para a "negociação casuística" e "permite que se possa especular que um dia as coisas possam não correr bem".
Na semana em que o Parlamento debate o Estado da Nação (na sexta-feira), Ferro Rodrigues escolhe a palavra "preocupante" para falar de um país afetado pela crise da Covid-19.
O Presidente da Assembleia da República avisa que vai ser preciso "gastar bem o dinheiro" que há de chegar de Bruxelas, não só nas "respostas mais urgentes como nas soluções de médio prazo".
"A crise abre a oportunidade de repensar estes investimentos estratégicos para Portugal", defende Ferro Rodrigues citando exemplos como o novo aeroporto ou a aposta na ferrovia.
A Visão Estratégica de António Costa Silva para a recuperação económica "é um bom ponto de partida para deixar pistas o consenso nacional" mas a concretização é da responsabilidade do Governo", sublinha.
Questionado sobre a atuação das autoridades de Saúde Ferro Rodrigues considera que "tem estado muito acima da expectativa", sublinha a "interligação fortíssima" entre as três principais figuras do Estado (ele próprio, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro) e concorda com o fim das reuniões no Infarmed no modelo em que estavam a funcionar porque "era repetitivo" e "já não acrescentava valor".
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