"Não nos sentimos sozinhos. Maioria dos portugueses acha que este processo envolve enorme injustiça"
Manuel Pinho acusa o Ministério Público de inventar pactos que nunca existiram.
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Manuel Pinho assegura à TSF que nunca foi corrompido nem ninguém tentou corrompê-lo. Um dia depois de ter sido publicado o despacho da acusação que aponta quatro crimes ao ex-ministro da Economia, entre eles dois crimes de corrupção passiva, Manuel Pinho nega qualquer crime de corrupção.
"Não fui corrompido de forma alguma. Não fui corrompido pela EDP, muito menos pelo BES. Os procuradores foram incapazes de me acusar de ter favorecido a EDP em um euro que fosse. Primeiro eram 1200 milhões de euros, agora nem um euro. Estamos a falar de grandes empresas, gente decente, onde cada um opera sobre as suas regras. Não houve de ninguém. Fui ministro da Economia durante quatro anos e meio, cerca de 50 meses. Ao longo desse tempo, ninguém - pequena, média ou grande empresa - me fez alguma abordagem que não fosse totalmente correta", garantiu à TSF Manuel Pinho.
O antigo responsável pela pasta da Economia acusa o Ministério Público de inventar pactos que nunca existiram. Quanto ao crime de fraude fiscal de que também é acusado, Manuel Pinho apenas reconhece que o BES tinha uma má prática que causou problemas fiscais a alguns funcionários.
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"Era sabido que o BES tinha como prática pagar parte dos complementos de salário e prémios no estrangeiro. Isso criava um problema fiscal, era uma prática que não devia ter acontecido, mas foi o caso de dezenas de superiores do quadro. Isso criou um problema fiscal a muitos. A maioria, como foi o meu caso, regularizou-os. Não tem nada a ver com corrupção", explicou o antigo ministro da Economia.
Quanto à EDP defende que os procuradores deviam encerrar o processo porque não há nada a apontar e considera lamentável a forma como foram tratados os antigos gestores da empresa, António Mexia e Manso Neto.
"Em 2020, os dois responsáveis máximos pela EDP foram afastados da empresa. Na altura, os procuradores e o juiz afirmaram que estavam perplexos perante a prova indiciária acumulada relativamente a esses dois dirigentes da EDP que foram tratados na praça pública como criminosos. Onde está a prova indiciária acumulada? É porque não há nenhuma. A EDP não foi favorecida. No meu caso, não conseguindo a EDP, partem para outros assuntos que levem a investigação. Isto é uma mentira pegada desde o primeiro dia", atira.
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Em prisão domiciliária há um ano, Manuel Pinho assegura que está confiante no trabalho dos advogados que apresentaram um habeas corpus para a sua libertação imediata por ter sido ultrapassado o prazo máximo de duração da medida privativa. Fala ainda em exagero e volta a lamentar as buscas que recentemente foram feitas á casa de família onde está, em Braga.
"É um exagero estarem aqui a colocar-me em prisão domiciliária tendo sido acusado há poucos dias, é uma situação constrangedora. Já me entraram várias vezes pela casa dentro para fazer buscas. É conhecido que da última vez me levaram garrafas de vinho e uma mesa de flipper comprada em segunda mão, o que não tem sentido nenhum. É só mesmo para humilhar e achincalhar uma pessoa. Impedem-me, por exemplo, de utilizar o cartão de multibanco para pagar a conta da eletricidade. Que sentido é que isto tem? Acho muito bem que, se há uma suspeita, se investigue e que se leve a investigação às últimas consequências, mas há atitudes que não fazem sentido", acrescentou Manuel Pinho.
Nestas declarações à TSF, Manuel Pinho garante que não está sozinho com a mulher - acusada do crime de branqueamento e fraude fiscal em coautoria com o marido - e tem recebido o apoio de muitas pessoas.