"Não pode ser esta a solução." Sesimbra e Almada criticam urgência regional e lamentam falta de "envolvimento das autarquias"
À TSF, o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Francisco Jesus, afirma que está em causa um "retrocesso civilizacional": "Aquilo que se está a prever é um modelo de concentração, delapidando aquilo que tem sido o serviço de proximidade nestas áreas"
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Os autarcas de Sesimbra e Almada defendem que a criação de uma urgência regional de obstetrícia na Península de Setúbal "não pode ser a solução" para a crise vivida no setor da saúde e criticam a "falta de sensibilidade" do Governo, ao não "envolver as autarquias" nesta decisão.
Em declarações à TSF, o presidente da câmara de Sesimbra lamenta que, "uma vez mais", o Executivo tenha escolhido não reunir-se com os autarcas, numa altura em que a situação vivida "tem sido dramática", com o encerramento constante das urgências na margem sul.
"É a falta de alguma sensibilidade por parte do Governo e, neste caso, da tutela de numa situação destas não ter existido, no momento em que houve encerramentos programados nas três urgências de obstetrícia e pediatria dos três hospitais da Península de Setúbal, nenhuma reunião com os autarcas. E anuncia-se agora uma decisão, mais uma vez, sem nenhum envolvimento das autarquias", lamenta.
A política do ministério tutelado por Ana Paula Martins, diz, é de "lastimar". Francisco Jesus acrescenta ainda que os três municípios da margem sul têm-se reunido com a Unidade Local de Saúde da Arrábida e adianta que o "encerramento programado" não é defendido "nem pela equipa técnica, nem pela direção". No entanto, a nova urgência regional também "não pode ser a solução", sublinha.
Sobre isto, o autarca é taxativo e afirma que a nova medida representa um "retrocesso civilizacional" na área da saúde, que vai contra aquilo que têm sido as políticas adotadas para garantir o modelo de proximidade.
"Aquilo que se está a prever é um modelo de concentração, delapidando aquilo que tem sido o serviço de proximidade nestas áreas. Isto agora é na obstetrícia, diria que, se calhar, um dia mais tarde há de ser na urgência geral", sentencia.
A autarca de Almada, Inês de Medeiros, expõe igualmente alguma incerteza quanto à opção tomada pelo Ministério da Saúde, apontando que a execução de uma "reorganização para colmatar falhas", dificilmente vai "resolver o problema".
"No [Hospital] Garcia de Orta só vai aumentar a pressão. Isso é uma reestruturação dos serviços que deve ser pensada, não apenas para colmatar a falta de profissionais, mas para melhorar cada vez mais aquilo que são as respostas de saúde e, sobretudo, no caso de urgências", destaca, notando que estão em causa, muitas vezes, "casos de vida ou de morte".
O Hospital Garcia de Orta lançou um concurso para contratação de obstetras, mas só conseguiu assinar com quatro dos sete médicos pretendidos. Os restantes optaram por outras unidades de saúde. Questionada ainda pela TSF sobre se obrigar os médicos a ficarem no Serviço Nacional de Saúde durante um determinado período, depois de formados nas universidades públicas, podia ser uma boa medida, a autarca não se opõe.
"Eu não tenho nada contra essa possibilidade, até porque é um modelo muito usado em vários países da Europa e é um modelo, aliás, usado até pelas próprias empresas privadas quando apostam na qualificação dos seus profissionais. E os seus profissionais depois devem um certo tempo de trabalho à entidade que apostou na sua formação. Isso parece-me algo que deve ser encarado até com bastante naturalidade", entende.
A ministra da Saúde revelou esta quarta-feira que o Governo vai criar a curto prazo uma urgência regional de obstetrícia na Península de Setúbal, com o Hospital Garcia de Orta a funcionar em permanência e Setúbal a receber casos referenciados pelo SNS 24 e o INEM. O anúncio de Ana Paula Martins surge depois de a margem sul ter ficado novamente sem urgências de obstetrícia e ginecologia, por falta de médicos.
