"Não queremos ser tratados com desigualdade." Agricultores algarvios saem à rua em marcha lenta
A Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve (CSHA) exige soluções para a situação de seca.
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Depois do governo ter anunciado cortes de água que chegam aos 25% na agricultura do Algarve, as várias associações de agricultores da região uniram-se e criaram a Comissão para a Sustentabilidade Hidroagrícola do Algarve (CSHA) para demonstrarem o seu descontentamento.
A marcha lenta vai realizar-se na Estrada Nacional (EN) 125, entre Boliqueime e Almancil, cerca de dez quilómetros com tratores, carrinhas e camiões. O porta-voz da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve, Macário Correia, queixa-se de um tratamento desigual.
"Não queremos ser tratados em desigualdade como temos sido tratados nos últimos tempos. Promovemos reuniões várias com o Governo, com a Agência do Ambiente e com uma série de organismos, mas depois acabam por dizer que para o golfe, para o turismo e para o círculo urbano os cortes são reduzidos ou simbólicos e para a agricultura são graves. Não pode ser. A agricultura tem de produzir alimentos, tem também postos de trabalho, tem investimentos. Não se pode parar os investimentos na agricultura e fomentar nos outros setores. É uma contradição, não pode ser", defendeu à TSF Macário Correia.
Os tratores e as carrinhas levam bandeiras de Portugal e bandeiras com uma gota de água, a representar a falta de água que se sente na região.
O ex- autarca do PSD, que lidera a Associação de Regantes do Sotavento Algarvio é um dos porta-vozes desta comissão. Lembra que, nas várias reuniões com o governo, com a Associação Portuguesa do Ambiente (APA) e outros organismos, acabam sempre por saber que "para o golfe, para o turismo e para o ciclo urbano, os cortes são reduzidos ou simbólicos", o que não acontece com a agricultura. "Não pode ser!", exclama.
"A agricultura tem que produzir alimentos, tem postos de trabalho e investimentos", adianta, sublinhando que "não se podem parar os investimentos na agricultura e fomentar outros sectores, é uma contradição".
Já o ex-presidente das câmaras de Faro e Tavira considera que não pode haver um "tratamento desigual para a agricultura relativamente a outros setores de atividade", razão pela qual os agricultores decidiram hoje reunir-se num protesto para demonstrar o seu descontentamento.
Também José Oliveira, da Associação de Operadores de Citrinos do Algarve (AlgarOrange), disse à Lusa considerar que "não há equidade" nas medidas do Governo, pois os cortes anunciados para uns setores "não têm nada a ver com a agricultura", considerando que estes podem levar à seca "de muitos hectares" de pomares.
"Não achamos justo, achamos que é possível fazer de outra maneira", sublinhou, acrescentando que os agricultores estão "descontentes e indignados" com as medidas aplicadas ao setor e que o problema da água no Algarve não é um problema da agricultura, mas sim da região e do país.
Depois da manifestação, os agricultores pretendem entregar ao presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região (CCDR) algarvia um documento onde, além de mostrarem as suas preocupações e pedirem que a capacidade de armazenamento de água na região aumente urgentemente, defendem também a reestruturação do Ministério da Agricultura e a manutenção das direções regionais do ministério.
Questionado sobre o facto da manifestação marcada para as vésperas de eleições poder ser considerada uma forma de aproveitamento político, Macário Correia recusa a ideia: "Não tem a ver com o ciclo político, nem eleitoral, nem coisa nenhuma." Explica que são" as preocupações de momento dos agricultores, depois do governo ter anunciado os cortes no abastecimento de água". No entanto, acrescenta que pretendem dar "contributos" para que, quem for eleito a 10 de março "se comprometa e diga o que pretende fazer com à agricultura do Algarve".
O vice-presidente da APA revelou esta quinta-feira que, se na agricultura e nos golfes do Algarve a redução dos consumos fez-se sentir no mês passado (menos 90 mil metros cúbicos em relação a fevereiro de 2023), o mesmo não tem acontecido nas cidades. No meio urbano, em janeiro, o consumo de água até aumentou, e em fevereiro reduziu apenas 0,5%.
Notícia atualizada às 12h42