"Não temos culpa da crise da habitação." Alojamento local em protesto pede a Governo que recue
Proprietários de negócios de alojamento local concentraram-se, esta tarde, à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa. Uma manifestação contra o Programa Mais Habitação, anunciado pelo Governo, que, garantem, vai matar o alojamento local e atingir a economia.
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David Almeida é proprietário de um alojamento local no Porto. Diz que foram muitos os que se endividaram para criar negócios que alavancassem a economia e queixa-se de que estão agora a ser castigados por um problema que não criaram.
"Mesmo com a crise pandémica, dissemos: "Estamos cá e vamos ajudar". Hoje, estão estão a tirar-nos o tapete, com todas as letras, sem mais nem menos", reclama. "Sem nos consultarem, sem nos dizerem nada, culpando-nos pela crise na habitação. Nós não temos culpa na habitação!", riposta.
David e dezenas de outros donos de negócios de alojamento local manifestaram-se esta tarde, junto à Bolsa de Turismo de Lisboa, contra o pacote de medidas anunciadas pelo Governo para a habitação e que consideram que vai arrasar o setor do alojamento local.
Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal, sustenta que "o alojamento local representa, hoje, 55 mil famílias", mas que é ainda "muito mais do que isso". "Todo o comércio, restauração, os serviços", alega, são potenciados pelo alojamento local, assim como o emprego. "São milhares de pessoas que fazem limpeza, lavandaria... Não há esta noção por parte de quem tomou estas medidas no Governo."
Fazendo eco dos protestos do setor, parte da direita fez questão de marcar presença nesta manifestação. André Ventura, do Chega, lembra que muitos daqueles que vão sair prejudicados, com o programa Mais Habitação, são pequenos proprietários.
"Foram pessoas que investiram, que colocaram as suas pequenas poupanças a reabilitar edifícios que estavam completamente destruídos, e hoje têm espaços que arrendam, que põem a ajudar ao desenvolvimento do turismo. O que o Governo vai fazer é matar o alojamento local", atira.
Rui Rocha fala em falta de bom senso por parte do Executivo. O líder da Iniciativa Liberal acusa o primeiro-ministro de tentar mascarar a própria incapacidade para resolver a crise na habitação.
"Não podemos deixar que o alojamento local seja objeto de uma agressão cujo último objetivo - e isso ainda é mais dramático - é esconder a falta de capacidade política e a incompetência de António Costa", afirma o liberal.
Já o presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal, depois de ter reunido com o Executivo, tem agora a esperança de que o Governo recue.
"Esperamos que haja essa sensibilidade, porque isto foi decidido por áreas que não conhecem [o setor do alojamento local]. Que agora haja aqui um período para voltar atrás e podermos sentar-nos e dialogar - porque não houve diálogo até agora -, para, então, construir alguma coisa que seja razoável e positiva", indica Eduardo Miranda.
Se assim não for, as novas licenças para alojamento local deverão ficar proibidas, exceto nas zonas rurais. Os proprietários que já têm licença terão de submetê-la a reavaliação, a partir de 2030, a cada cinco anos e também pagar uma contribuição especial para financiar as políticas de habitação.