Neste curso de pastelaria, a pandemia não trava a vontade de voltar à cozinha
Este centro de formação teve de adaptar as aulas práticas à pandemia, incorporando medidas de segurança que passam pelo uso de máscaras, divisão das turmas e regras para usar a cantina.
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Na cozinha do curso de pastelaria e padaria do Centro de Educação, Formação e Certificação (CEFC) todos os alunos seguem as indicações do chef.
"Oh chef, não acha que isto precisa de mais leite?", pergunta uma das alunas. O chef Marco Gomes pede para acrescentar e continuar a amassar. Na ponta oposta da cozinha, ouve-se "oh chef". Há outro aluno a precisar de orientação. E assim continua durante toda a aula.
Cada aluno recebe uma tarefa e em pouco mais de uma hora, os resultados começam a sair do forno: pastéis de nata, areias, cupcakes, queijadas de manteiga, pão de limão e côco.
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Telma Oliveira, 16 anos, seguiu os passos da irmã que já estudou para cozinheira no CEFC da Santa Casa e começou o curso de pastelaria e padaria.
"Comecei a ter interesse, quis experimentar e estou a gostar muito", conta. Para já, Telma pretende fazer o 9º ano, depois avançar até ao 12º ano. "Depois quero trabalhar nesta área e continuar até chegar mesmo ao topo e ser chef de uma pastelaria", revela.
Para Beatriz Lucas, 18 anos, nunca houve dúvidas sobre que curso escolher porque gosta da área de pastelaria e de aprender coisas novas. "Também porque eu sou muito gulosa", admite.
Para a aluna a maior vantagem de frequentar um curso mais prático é poder fazer estágio no final. "É já uma grande vantagem e, muitas vezes, ficar a trabalhar nos locais. Ou pelo menos temos uma experiência de trabalho". Além disso, salienta o apoio financeiro de uma bolsa de formação e do passe dos transportes.
Com a pandemia, os estágios tiveram de ser adiados ou adaptados porque o mercado não está "capaz de receber estagiários porque muitos até estão fechados", conta a diretora do centro.
Paula Morais explica que a alternativa tem sido desenvolver os estágios no centro. Apesar de declarar que os estágios são "muito importantes para integração no mercado trabalho", admite que "temos que fazer o que é possível e não é possível neste momento e temos de lhes dar a possibilidade de eles concluírem o curso".
Telma entende que pode acabar por não ter oportunidade de fazer estágio mas sabe que é essencial para entender como funciona uma cozinha de pastelaria a sério.
Para dar a volta a este contratempo o centro está já a aplicar formas inovadoras de formação.
"Já está a funcionar o estágio do nível dois de cozinha e a chef está a organizá-los como se fosse um hotel. Eles têm maior responsabilidade das tarefas que ela lhes aplica, têm de ter outro comportamento. Exige como se não houvesse confiança. É -lhes exigido uma maior responsabilidade", afirma a diretora.
O polo jovem do CEFC da Misericórdia de Lisboa oferece cursos de formação profissional com equivalência ao 9º, 10º e 12º ano. Além de pastelaria e padaria, o centro tem também formação em cozinha e informática.
Paula Morais, diretora do polo sediado em Benfica, explica que a maior parte dos alunos já esteve no ensino regular mas não se deu bem com o ensino formal, registando insucesso escolar.
"Não é que a grande maioria deles não tenham competências, têm outro tipo de competências e é isso que nós temos que tentar aproveitar neles e trabalhar ao máximo os aspetos mais negativos de comportamento, de relação", explica.
O centro faz um trabalho muito próximo dos alunos mas também das famílias, tentando envolvê-las no processo de formação. "Nós falamos com os pais com regularidade, estão informados, há reuniões de avaliação individuais".