Netos da madrugada. Mudaram-se os tempos, recordam-se as vontades
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Na véspera das comemorações do 48.º aniversário do 25 de abril, a TSF ouviu os netos da revolução.
Para as novas gerações, falar de abril é falar das histórias dos avós. São eles as referências mais próximas do período de ditadura que os mais novos não viveram.
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"O que foi o fascismo?", questionou a professora. Um aluno atirou: "Fascismo é fazer um sismo." "Já ouviram falar nesta palavra?" Em coro, a resposta é "não" e no quadro, faltaram letras à "palavra feia".
Quando André Santos nasceu, Portugal já vivia há 36 anos em liberdade. O avô era um militar anti-regime, que em 1974 estava na Guiné-Bissau e "assistiu à revolução pela televisão".
"Os meus avós dizem-me que foi um período traumatizante por causa da guerra, que reprimia e censurava muito", refere.
Para Dinis Trindade, falar de fascismo é falar de "extrema-direita" e "tudo o que é extremo, não é bom", aponta o jovem de 12 anos.
"Uma altura muito má". É assim que a avó de Lia Rosado descreve a ditadura e hoje, a neta não tem dúvidas: "não poder dar a minha opinião, ia ser muito complicado", confessa a jovem à TSF.
Henrique Patiño tem 15 anos e é neto de um marinheiro da armada portuguesa. À TSF, relata a madrugada em que o seu avô, à revelia da família, "preparou uma mala e saiu". Em poucas horas, a preocupação da família, da avó e da mãe, na altura uma criança, dissiparam-se: "Afinal era a revolução", explica o neto. E a 25 de abril de 1974, quando o povo saiu à rua, também lá estava a avó de Bárbara Nunes, colega de Henrique com quem partilha a escola, a idade e as histórias dos avós. "A minha avó foi a correr para a rua e toda a gente gritava liberdade, liberdade", conta a jovem.
Neste dia de véspera, falou-se em voz alta de liberdade, os mais novos cantaram "Somos Livres" de Ermelinda Duarte, e os mais velhos "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso. Alguns ouviram o testemunho de uma das vítimas do Estado Novo, mas todos, de cravos de papel em punho, ecoaram "liberdade", como a avó da jovem Bárbara, há 48 anos.
