"Ninguém está a salvo de Trump." Caso de português detido é um "alerta à consciência de que estas políticas são desumanas"
"Em determinados setores políticos tenta-se passar muito a ideia de que estas situações [de deportações] só vão afetar os outros. E a verdade é que acabam por tocar em todas as nacionalidades, incluindo os portugueses", sublinha à TSF o diretor de comunicação da Amnistia Internacional Portugal
Corpo do artigo
A Amnistia Internacional Portugal avança que está a acompanhar o caso do português detido pelos serviços de imigração nos Estados Unidos da América, apesar de ter autorização de residência permanente. A angariação de fundos para ajudar este cidadão é "um alerta à consciência de todos de que estas práticas são cruéis e desumanas".
Em declarações à TSF, o diretor de comunicação da Amnistia Internacional Portugal sublinha que o Presidente dos EUA, Donald Trump, está a levar a cabo uma política de "práticas cruéis e desumanas e, ao mesmo tempo, bastante dispendiosas".
"O congresso americano está a ponderar gastar muitos milhões de dólares para avançar com políticas que a Amnistia tem denunciado como sendo nocivas e xenófobas, porque incluem a militarização de fronteiras e as deportações em massa, sem qualquer critério aparente, sem qualquer racionalidade", lamenta Miguel Marujo.
Numa página de arrecadação de fundos criada para cobrir as despesas legais do caso, a cunhada do português detido apresentou detalhes sobre o caso, explicando que o jovem foi detido ao regressar aos EUA após uma viagem ao exterior, estando atualmente sob custódia do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) e mantido numa prisão fora de Massachusetts, estado onde reside legalmente. Rui Murras, que vive em solo norte-americano desde os dois ano, corre agora o risco de ser deportado.
Miguel Marujo entende que esta angariação de fundos é "importante" porque sinaliza uma situação "bastante cruel".
"Ao lançarem o crowdfunding estamos perante o retrato de uma família que não terá capacidade financeira para responder a um sistema judicial que é bastante oneroso e que, por isso, precisa do apoio da população", explica.
Mas a maior "virtude" está mesmo na capacidade de chamar a atenção para o facto de, "aparentemente, ninguém estar a salvo nos EUA de Trump". E esta é uma mensagem que serve, sobretudo, para os políticos portugueses.
"Isto é muito importante que se diga, porque em determinados setores políticos tenta-se passar muito a ideia de que estas situações só vão afetar os outros. E a verdade é que acabam por tocar em todas as nacionalidades, incluindo os portugueses."
O caso de Rui Murras é então "um alerta à consciência de todos e dos políticos em Portugal de que estas políticas cruéis e desumanas não servem e não interessam a ninguém".
"Até aqui não ligávamos tanto porque eram supostos criminosos de países latino-americanos. Não. Tratam-se de cidadãos que têm uma vida estabelecida há muito naquele país, muitos deles estão em situação regular", enfatiza.
Cerca de 12,8 milhões de portadores de Green Card vivem nos Estados Unidos da América, de acordo com as últimas estimativas do Gabinete de Estatísticas de Segurança Interna. Desde que Donald Trump regressou à Presidência dos EUA somam-se os casos de cidadãos detentores de Green Card detidos e em processo de deportação.
Em 2017, Murras foi acusado de dirigir sob influência de álcool, mas o caso foi arquivado no ano seguinte, após o português concluir um programa de educação sobre álcool.
A defesa do português acredita que a detenção se baseia na acusação de tráfico de drogas de 2012, que acabou resolvida.