"Ninguém nos dizia nada." Funcionários do lar de Marvila indignados com despedimento coletivo
Durante a pandemia, os funcionários nunca pararam de trabalhar. O pagamento de salários em junho começou a atrasar.
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A Fundação D. Pedro IV, que gere a Mansão de Santa Maria de Marvila, em Lisboa, anunciou o encerramento do lar de idosos esta terça-feira. Os trabalhadores vão ser despedidos, mas só começaram a perceber que alguma coisa se passava quando os pagamentos começaram a falhar no início de junho.
Antes do meio do ano, não havia quaisquer sinais de que a situação pudesse ser complicada. Em declarações à TSF, Maria Diogo, trabalhadora no lar há dez anos, adianta que "no final de junho os pagamentos começaram a atrasar e ninguém dizia nada". O pagamento do subsídio de férias também atrasou.
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A funcionária, que faz parte do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, nota ainda que as famílias só foram informadas no final de julho. O objetivo era não criar alarmismo.
"Até há bem pouco tempo, a grande parte dos utentes não sabiam de nada. Nunca foi transmitido nada formalmente. Algumas famílias foram sabendo porque os trabalhadores começaram a passar alguma informação. Ainda assim, encaminhamos sempre as pessoas para a direção, que nunca avançou com pormenores."
Maria Diogo sublinha a indignação dos 79 trabalhadores do lar de Marvila que durante o tempo de pandemia nunca pararam de trabalhar. O mesmo não aconteceu nas creches da Fundação D. Pedro IV, e os funcionários nunca viram atrasos nos pagamentos.
"Não aceitamos, estando sempre a trabalhar, com os utentes a pagar a mensalidade, como é que somos nós a ir para o desemprego e a ficar sem o posto de trabalho. Apesar do discurso da direção, que acusa o Estado de não pagar a dívida, a falta de verbas faltou do lado das creches. Alguns pais tiveram perda de rendimentos, o que atrasou alguns pagamentos. Mas na Mansão, isso não existiu. Não compreendemos e estamos indignados", assume.
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A fundação D. Pedro IV gere um lar e seis creches. Apenas há notícia de que será o lar a fechar portas e a despedir trabalhadores.
Questionada sobre o compromisso já assumido pela ministra do Trabalho para encontrar uma solução para todos os trabalhadores, Maria Diogo apenas congratula a recetividade do Governo, e lembra que já está marcada uma reunião para o próximo dia 19 de agosto.