O presidente da Comissão de Ética diz que é um problema de transparência e acrescenta que a Assembleia da República é incapaz de travar os conflitos de interesses entre os deputados que são, ao mesmo tempo, advogados.
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À TSF, Mendes Bota explica que a lei mudou há alguns anos e não é possível saber quantos e quais os deputados que trabalham apenas no Parlamento. A informação presente nos registos de interesses não é clara e não permite perceber quem está em regime de exclusividade, criando um problema de «transparência».
O presidente da Comissão de Ética diz que é um «privilégio inaceitável» os deputados poderem trabalhar em part-time criando situações de desigualdade entre «uns que trabalham sete dias por semana no Parlamento e outros que dedicam uma parte do seu tempo, que pode ser substâncial, em proveito próprio».
Mendes Bota acrescenta que a diferença de salários é muito pequena entre quem está ou não em exclusividade (10% a 15%) o que impede uma «justiça relativa entre os deputados: se ganham praticamente o mesmo deviam ter o mesmo trabalho».
Outra questão são os conflitos de interesses que segundo Mendes Bota são um problema «muito grave» pois é impossível controlar os advogados que ocupam 30% do Parlamento.
O presidente da Comissão de Ética explica que o estatuto deontológico dos advogados impede-os de revelarem os seus clientes e não existem meios para confrontarmos o interesse público e o interesse privado.
Mendes Bota, eleito pelo PSD, defende a exclusividade dos deputados, mas sabe que essa não tem sido a posição do partido que representa.
A exclusividade dos deputados é hoje debatida na Assembleia da República devido a dois projetos de lei do Bloco de Esquerda e do PCP que pretendem aumentar os impedimentos e incompatibilidades dos deputados.
Em declarações à TSF, o líder parlamentar do PCP considera que o verdadeiro problema é a promiscuidade que pode ocorrer entre política e interesses económicos. João Oliveira cita o exemplo da Sociedade Gestoras de Participações Ssociais - SGPS - onde a lei pode ser contornada.
João Oliveira acrescenta que entre as alterações propostas pelo PCP está o alargamento, de três para cinco anos, do chamado "período de nojo", prazo durante o qual o antigo governante não pode exercer atividade numa empresa privada.
Já o Bloco de Esquerda defende a exclusividade para «requalificar a democracia». Pedro Filipe Soares considera que a dedicação dos deputados deve ser total e exclusiva, dando tolerância zero a eventuais promiscuidades com grupos económicos.
Também contactado pela TSF, Fernando Negrão, deputado do PSD, diz que esta é uma medida avulsa que não resolve, sozinha, o problema da relação eleitos-eleitores.
Fernando Negrão defende ainda que ele próprio, enquanto deputado não-exclusivo/com outras atividades fora do Parlamento, ganha com aquilo que faz fora do hemiciclo.