"Ninguém vai correr o risco de voltar." Em Cabo Delgado, já não se contam os mortos
Na província do norte de Moçambique, o padre Edegard Silva Júnior conta que "há muitos corpos em decomposição nas aldeias e ao redor das estradas", vítimas dos últimos ataques dos extremistas. Mas ninguém sabe quantos são os mortos.
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O último ataque das milícias armadas, em Cabo Delgado, teve epicentro na missão católica de Nangololo, na aldeia de Muambula.
A partir daí, os extremistas destruíram cerca de dez aldeias vizinhas, numa ofensiva que durou 20 dias. A violência terminou no final da semana passada e para trás, ficou a destruição de casas, a igreja, a creche, a rádio comunitária - toda a missão católica, a segunda mais antiga da diocese de Pemba. E uma aldeia quase fantasma.
O padre Edegard Silva Júnior, que trabalhou em Muambula até Abril, conta que uma testemunha descreve a existência de "muitos corpos em decomposição nas aldeias e ao redor das estradas", mas ninguém sabe quantas serão as vítimas.
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"Ninguém vai correr o risco de voltar (...) porque correria risco de vida".
Os missionários que, como Edegard Silva, trabalhavam nas aldeias mais recônditas, foram chamados pelo bispo de Pemba, em Abril.
É de lá que tentam ajudar os milhares de deslocados, que fogem da onda de violência.
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"Já é uma calamidade, já é uma situação maior do que as nossas possibilidades e condições", afirma o padre Edegard Silva. Os refugiados chegam debilitados, "com fome, doentes, com diarreia, pela água que bebem na mata", descreve ainda o missionário, que conhece "casas minúsculas com 30 pessoas dentro ou até mais".
Faltam comida, roupa, medicamentos. Falta tudo e por isso, "a solidariedade internacional é muito importante", sublinha Edegard Silva, lembrando que está a começar a época das chuvas em Moçambique.
O missionário lamenta que o Programa Alimentar Mundial (PAM) tenha anunciado uma redução da ajuda, a Cabo Delgado, a partir da próxima terça-feira.
O PAM justificou o corte no apoio alimentar, por falta de financiamento.
Os ataques extremistas em Cabo Delgado já fizeram 500 mil deslocados. Cerca de metade têm menos de 18 anos.
*A autora não escreve segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico
