A TSF conversou com duas investigadoras para perceber a importância da descoberta de William Kaelin, Sir Peter Ratcliffe e Gregg Semenza, que receberam esta segunda-feira o Nobel da medicina.
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O Nobel da Medicina foi atribuído em conjunto a William Kaelin, Sir Peter Ratcliffe e a Gregg Semenza - pela descoberta de como as células sentem e se adaptam à disponibilidade de oxigénio. O júri explicou que a importância do oxigénio é estudada há séculos, mas a forma como as células se adaptam às mudanças nos níveis de oxigénio ainda estava por esclarecer.
Ângela Costa, investigadora do I3S, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, explica que "em determinadas situações patológicas sabe-se que há uma variação da pressão do oxigénio, ou seja, que há uma percentagem relativamente inferior de oxigénio a que se chama hipoxia e isso ocorre no cancro. Este estudo premiado com o Nobel conseguiu descobrir quais os mecanismos moleculares pelos quais as células conseguem responder a esta alteração, nomeadamente quem orquestra toda a resposta molecular que a célula tem perante a situação de uma baixa de percentagem de oxigénio".
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A investigadora sublinha que no caso do cancro o estudo distinguido com o Nobel é muito importante até para encontrar tratamentos para a doença. "No caso do cancro e em que se tem cada vez mais em atenção o microambiente tumoral, a própria temperatura a que as células estão sujeitas é um fator a ter em conta para perceber quer o processo de desenvolvimento da doença, quer o processo de progressão tumoral. É um fator a ter em conta para obter melhores terapias e entender a doença".
A TSF também ouviu Elsa Logarinho, investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto. Elsa Logarinho diz que este é um estudo com algumas décadas e que resultou de uma investigação independente, do cruzamento de trabalhos que aparentemente não estavam relacionados.
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"O Gregg Semenza de facto foi quem descobriu uma das proteínas da via, em paralelo estava William Kaelin a descobrir um gene supressor tumoral que sabia que dava um tipo de cancro renal que normalmente produzia genes de resposta a hipoxia e depois veio a descobrir-se que estas duas proteínas interagiam uma com a outra. O Peter Ratcliffe descobriu uma hormona muito importante, que é essencial para produzirmos elevado número de glóbulos vermelhos".
A investigadora Elsa Logarinho explica que esta descoberta tem efeitos fisiológicos e impacto em várias doenças.
"No contexto de doenças como o cancro, em que as células tumorais têm que se adaptar a um período de falta de oxigeno durante um período de crescimento muito rápido e tentam controlar através do aumento de vasos sanguíneos. Mas este processo de adaptação também é semelhante numa situação de exercício físico muito intenso, durante o desenvolvimento fetal".