"Nós mulheres temos de estar sempre muito alerta em relação às forças de direita"
A fundadora da UMAR diz que as promessas dos líderes de direita de que não vão referendar novamente o aborto não lhe inspiram confiança.
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A fundadora da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Manuela Tavares, deixou esta quarta-feira um aviso às mulheres para que se mantenham “muito alerta” face a uma eventual maioria de forças de direita e confessa não ter “confiança” nas garantias de que a lei da interrupção voluntária da gravidez (IVG) não vai ser alterada.
O tema foi recuperado na discussão pública depois de Paulo Núncio, do CDS – que integra a AD com o PSD e o PPM – ter defendido a realização de um novo referendo sobre a IVG e, apesar de Luís Montenegro já ter garantido que esse “é um assunto que está absolutamente arrumado”, Manuela Tavares deixa o aviso.
“Temos de ter muito cuidado nestas eleições em quem vamos votar, as mulheres. Penso que um voto maioritário à direita vai dar origem a que exista um retrocesso relativamente aos nossos direitos. Tenho poucas dúvidas sobre isto e inclusive em relação ao aborto”, apontou a também investigadora, que sublinha que depois de "33 anos de debate em relação ao aborto”, a luta foi “resolvida” quando as mulheres "entenderam como era importante poderem despenalizar interromper a sua gravidez nos serviços de saúde em condições, e não como se fazia anteriormente”.
É precisamente para não se perder essa conquista que Manuela Tavares pede às mulheres que estejam “sempre muito alerta em relação às forças de direita”, uma vez que por mais que os líderes destes partidos possam não querem alterar a lei, não lhe inspiram confiança: "Se quer que lhe diga pessoalmente não tenho muita confiança nessas posições.”
Afastada a ideia de repetir um referendo ao aborto, a fundadora da UMAR defende que Portugal deve antes olhar para o prazo no qual o procedimento pode ser pedido, alargando-o das dez para as 12 semanas, como acontece “na maioria dos países da Europa”.
“Existem serviços onde a maioria dos médicos são objetores de consciência e, nesse caso, o próprio serviço do hospital indica à mulher um outro hospital onde pode ir fazer a interrupção da gravidez. Mas em zonas do Interior, distanciadas por quilómetros, com um prazo de dez semanas as situações ficam muito difíceis”, aponta Manuela Tavares.
Outro dos problemas que identifica em Portugal é a manutenção dos três dias de reflexão obrigatórios, que deviam antes ser “flexíveis”. Ou seja, “se a mulher entender que deve ter os três dias, muito bem”, mas se "já refletiu e quer avançar”, não deve ser obrigada a cumprir o prazo.