O pneumologista Filipe Froes admite, em declarações à TSF, que a Jornada Mundial da Juventude pode ter contribuído para um aumento do número de casos de EG.5 em Portugal devido "às condições de proximidade, que podem ter facultado a transmissão".
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu na quarta-feira que a estirpe EG.5 do SARS-CoV-2, classificada de interesse, pode provocar "um aumento na incidência" de infeções e "tornar-se dominante em alguns países ou mesmo no mundo".
Em comunicado, a OMS justifica o alerta com o facto de esta linhagem, resultante da sublinhagem recombinante XBB.1.9.2 da variante Ómicron, apresentar "características que escapam aos anticorpos" e estar em "vantagem de crescimento".
O pneumologista Filipe Froes revela, em declarações à TSF, que a EG.5 é muito importante porque confirma "o que já se esperava".
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"Esta nova estirpe - que deriva das subvariantes XBB, mais precisamente, deriva da subvariante XBB1.9.2 - vem validar a indicação das principais entidades de saúde, no sentido das novas vacinas disponíveis até ao final do ano derivarem das variantes XBB. Vem confirmar as necessidades que já estávamos a antever com o fim da pandemia", explica.
Filipe Foroes assegura, ainda, que a "SARS-CoV-2 veio para ficar" e aponta duas medidas a tomar após a identificação desta nova estirpe.
"A pandemia acabou, mas ficamos com mais um vírus a circular entre nós e para nos adaptarmos a esta presença contínua nas nossas vidas, nós temos de fazer duas coisas que esta nova variante EG.5 nos ensinou: a monitorização - quer da infeção, quer da gravidade - é determinante e temos de incluir este vírus nos sistemas de vigilância mundiais - à semelhança do que já foi feito -, portanto, reforça essa necessidade e nós vamos provavelmente ter de nos vacinarmos todos os anos, à semelhança do que fazemos com alguns vírus, como é o caso do vírus da gripe", explica.
A necessidade de vacinação terá de ser, como se pensava, generalizada, sobretudo para proteger os grupos mais vulneráveis.
A OMS ressalva que, apesar destes fatores e da "prevalência aumentada" da EG.5, não foram reportadas até à data alterações na gravidade da doença Covid-19 (causada pelo SARS-CoV-2) e o risco para a saúde global que a variante representa é baixo.
A EG.5 está a ser monitorizada após ter sido detetado um aumento "considerável" de casos na semana de 17 a 23 de julho, período em que a taxa de prevalência global da EG.5 subiu para 17,4, mais do dobro do que quatro semanas antes.
À data de segunda-feira tinham sido submetidas à plataforma internacional de partilha de dados genómicos GISAID 7.354 sequências genéticas da EG.5 de 51 países, incluindo Portugal, que enviou 115 sequências, de acordo com a OMS.
Filipe Foroes explica, ainda, o que representam, no caso de Portugal, as 115 sequências genéticas e admite que a Jornada Mundial da Juventude pode fazer aumentar o número de casos de EG.5.
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"Em princípio correspondem a amostras de doentes que foram enviadas para laboratórios com capacidade para fazer sequenciação, representando casos de infeção associados a essas subvariantes à EG.5. Eu até diria que - face à concentração muito elevada de pessoas que nós tivemos na última semana, decorrente da Jornada Mundial da Juventude, previsivelmente, poderá ter havido condições de proximidade, que podem até ter facultado a transmissão e um aumento do número de casos. Vamos ter de monitorizar esse impacto nos próximos dias, nas próximas semanas", adianta.
A estirpe EG.5 foi comunicada pela primeira vez à OMS em fevereiro e em 19 de julho foi designada como variante sob monitorização.
Agora, face à "avaliação de risco" feita, a OMS decidiu classificar a EG.5 (e as suas sublinhagens) como variante de interesse.
A linhagem EG.5 tem uma mutação adicional no aminoácido F456L na proteína da espícula do SARS-CoV-2 (proteína da superfície do coronavírus que se liga às células humanas) quando comparada com a sublinhagem recombinante XBB.1.9.2 que lhe deu origem e com a sublinhagem recombinante XBB.1.5, ambas da variante Ómicron.
A sublinhagem EG.5.1 tem, ainda, mais uma mutação na proteína da espícula e representa 88% das sequências genéticas disponíveis para a estirpe EG.5 e as suas sublinhagens.
A China lidera a lista de países com mais sequências genéticas da EG.5 submetidas (2247), seguindo-se Estados Unidos (1356), Coreia do Sul (1040) e Japão (814).
A Covid-19 é uma doença respiratória causada pelo SARS-CoV-2, um tipo de vírus detetado em finais de 2019 na China e que se disseminou rapidamente pelo mundo, assumindo várias variantes e subvariantes, umas mais contagiosas do que outras.
Desde 11 de março de 2020 que a Covid-19 é uma pandemia. Em maio passado deixou de ser uma emergência de saúde pública internacional.