Nova variante da Covid "esperada em setembro". É "uma possibilidade" tendo em conta o padrão
Os cálculos apontam para 350 mil contágios devido às festas populares e grandes concertos. Henrique Oliveira, especialista do Instituto Superior Técnico, afirma à TSF que o impacto vai notar-se, sobretudo, ao nível da redução da sexta vaga da pandemia.
Corpo do artigo
Se tudo correr como até agora, poderá surgir uma nova variante do SARS-CoV-2 em setembro. Esta é uma avaliação de Henrique Oliveira, especialista do Instituto Superior Técnico (IST) que segue os números da pandemia, e que calcula que haja, ao longo deste mês, cerca de 350 mil contágios por causa das festas populares e grandes concertos. Contudo, o impacto será sobretudo ao nível da redução desta sexta vaga, que vai ser mais lento que o previsto.
"A variante Ómicron já conseguiu infetar grande parte da população portuguesa. Isso faz com que a descida seja mais lenta. Nós estávamos a prever uma descida muito rápida sem festejos populares, mas com Rock in Rio, festivais de verão e santos populares, vamos ter uma descida mais vagarosa dos casos, ou seja, a própria mortalidade está muito elevada e era bom que houvesse uma redução mais rápida dos casos", explica em declarações à TSF.
O uso da máscara nestes eventos com muitas pessoas, mesmo ao ar livre, é, por isso, recomendado. Henrique Oliveira destaca que temos todo o interesse em chegar a setembro com a pandemia em níveis controlados, porque, nessa altura, deve surgir uma nova variante.
"Estamos muito desprevenidos para lidar com uma nova variante severa. Mas esperemos que não venha. A nova variante é esperada, de acordo com a periodicidade habitual das novas variantes, apenas para setembro. Isto não é uma previsão, é uma possibilidade, porque as variantes têm entrado, em média, de 120 em 120 dias. Sempre que surge uma nova variante ou linhagem, temos que lidar com a situação e vamos ter um crescimento de casos. Em setembro, é conveniente termos um número de casos muito baixo para não sermos apanhados desprevenidos com a nova variante e iniciarmos uma campanha de vacinação com novas vacinas mais adaptadas às novas variantes e que durem mais tempo em termos de imunidade", defende.
TSF\audio\2022\06\noticias\08\henrique_oliveira_nova_variante
De acordo com os modelos matemáticos, o especialista sugere que esta nova variante poderá ser mais contagiosa.
"As novas variantes são sempre mais contagiosas e mais rápidas a espalhar-se. Em espécies oportunistas como os vírus, só ganham vantagens em ser mais rápidos, ou seja, só conseguem ocupar o espaço dos anteriores sendo mais rápidos a reproduzir-se e a contagiar. Agora, se é mais severa ou não é uma lotaria. Não há nenhuma razão física, matemática ou biológica que leve um vírus de baixa letalidade a matar mais ou menos", acrescenta.
O relatório do IST sobre a pandemia de Covid-19 prevê que as festas populares poderão resultar em 350 mil contágios diretos no país, o que reforça a recomendação para o uso de máscara.
O documento antecipa também que o número de contágios pelo coronavírus SARS-CoV-2 "produzidos sem máscara, com os níveis atuais de suscetíveis de infeção, em eventos como o Rock in Rio seja de 40 mil no total".
14924636
A propagação do vírus será maior nas festas dos santos populares das duas maiores cidades do país, "onde poderemos ter um mínimo de 60 mil contágios nos dias mais movimentados em Lisboa e 45 mil no Porto", adianta o relatório produzido por Henrique Oliveira, Pedro Amaral, José Rui Figueira e Ana Serro, que compõem o grupo de trabalho coordenado pelo presidente do Técnico, Rogério Colaço.
"Reforçamos a recomendação do uso de máscara em grandes eventos de massas ao ar livre, em festas populares, em concertos e eventos em ambiente fechado, nos transportes públicos e em contexto laboral quando há proximidade entre trabalhadores inferior a dois metros", alertam os especialistas do Técnico.
Segundo a avaliação do IST, com os dados de domingo, a mortalidade acumulada a 14 dias por um milhão de habitantes "é agora de cerca de 56", valor que é 2,75 vezes mais do que o preconizado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) para a redução das medidas de controlo da pandemia.