Nova variante de Covid-19. "É possível que as coisas não corram bem a curto prazo"
Investigador do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge admite que está preocupado.
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Ainda não é possível dizer se o aumento de novos casos de Covid-19 em Portugal resulta do período festivo do Natal e Ano Novo ou se já está relacionado com a presença da nova variante, vinda do Reino Unido.
João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, admite, no entanto, que está preocupado, sublinhando que se se confirmar que a variante já está na comunidade, vai tornar-se dominante, o que faz prever tempos complicados.
"Estamos a viver uma altura em que tudo se confunde. Os casos em Portugal estão a aumentar, naturalmente, mas não nos podemos esquecer que acabámos de viver uma altura de algum desconfinamento, a altura do Natal e Ano Novo, e poderemos confundir as duas coisas. Isto deve-se a este período de desconfinamento ou pseudo-desconfinamento, à presença da variante do Reino Unido ou às duas coisas? Ninguém sabe. Se ela está cá e vai originar mais casos, é possível que as coisas não correm bem a curto prazo", explicou à TSF João Paulo Gomes.
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O coordenador do estudo sobre a diversidade genética do novo coronavirus SARS-CoV-2, adiantou ainda à TSF que foram diagonsticados em Portugal um total de 34 casos da nova variante (16 da Madeira e 18 na região de Lisboa e Vale do Tejo).
Agora analisam-se lotes de amostras vindos de outros pontos do país.
"Há duas semanas analisámos da Madeira e a variante foi identificada lá. Na semana passada focámos muito o nosso esforço em analisar amostras, essencialmente de Lisboa e Vale do Tejo. Portanto, foi em Lisboa e Vale do Tejo que detetámos a maior parte das variantes para além daquelas que já foram detetadas na Madeira. Posso dizer-lhe, por exemplo, que durante esta semana estamos já a processar um lote de amostras. Algumas da região de Lisboa e Vale do Tejo, outras do Algarve, região do Porto. Durante a próxima semana já vamos ter notícias acerca do possível espalhamento desta variante do Reino Unido", afirmou o investigador do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge.
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João Paulo Gomes acredita que o número de casos da nova variante será muito mais elevado do que os 34 que estão confirmados.
"Não podemos dizer que existem 34 casos com a variante do Reino Unido a circular em Portugal, existem, de certeza, muitíssimas mais do que isto. O que podemos dizer neste momento é que entre algumas dezenas de amostras suspeitas que testámos já encontrámos 34 casos", acrescentou João Paulo Gomes.
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O investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge adianta que "quase a totalidade dos casos estão associados a pessoas com um historial de viagens ao Reino Unido"
"Estamos a falar de estrangeiros que visitaram o país e de emigrantes portugueses, mas também temos pessoas que reportam não ter viajado para o país nem ter estado em contacto com pessoas que viajaram para o Reino Unido, por isso pode configurar a existência de transmissão comunitária. Suspeitamos de que ela já existe e será mais preocupante. Nós vamos focar-nos agora em tentar perceber a dimensão da transmissão comunitária. Perceber há quanto tempo é que esta variante chegou ao país e qual a extensão da sua disseminação."