"Nova vida" às cápsulas de café. Ecocentros de Cascais recolhem 220 quilos em três semanas
O projeto da Associação Industrial e Comercial do Café, da Câmara Municipal de Cascais e outras seis empresas ligadas ao setor, pretende que o plástico e o alumínio das cápsulas sejam reaproveitados para originarem novos materiais. Por agora, só funciona em Cascais, mas o plano é expandir para outros municípios.
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São mais de mil milhões as cápsulas de café consumidas, por ano, em Portugal, onde o expresso é "o rei". Os dados constam da quarta edição do "Guia do Café", divulgado pelo Centro do Comércio Internacional, e dizem respeito a 2019. Com a pandemia de Covid-19 o consumo "aumentou bastante" devido ao encerramento da restauração. Muitas destas cápsulas acabam depositadas no ecoponto amarelo, algo que não é uma "boa prática, porque o material do qual são compostas não é reciclável neste fluxo". Além disso, a taxa de reciclagem de resíduos em Portugal "é fraca" e "muito aquém das metas".
Por isso, a Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) e a Câmara Municipal de Cascais, em conjunto com a Nestlé Portugal, o Grupo Nabeiro, a Massimo Zanetti, a NewCoffee, a JMV e a UCC - empresas que representam 12 marcas de café -, criaram um novo projeto de reciclagem de cápsulas, através de um "sistema dedicado exclusivo" para estes resíduos.
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"Se as cápsulas de café são indevidamente depositadas, seja no ecoponto amarelo ou no cinzento, vão estar a contribuir para encher espaço num aterro, e não estamos a potenciar a segunda vida destes materiais. É neste sentido que a sociedade moderna tem que caminhar. É dar uma nova vida às matérias-primas, em vez de irmos extrair mais matérias-primas do planeta", explica à TSF Joana Balsemão, vereadora da câmara de Cascais com o pelouro do Ambiente.
O objetivo é dar uma segunda vida às cápsulas de café, independentemente da marca. Uma vez depositadas num dos oito ecocentros espalhados pelo concelho de Cascais, são "transportadas para um reciclador e esse reciclador vai triturar as cápsulas, separar o alumínio, o plástico e a borra", adianta à TSF Cláudia Pimentel, secretária-geral da AICC.
"O alumínio é 100 por cento reciclável, é reaproveitado para novos materiais, a borra de café é aproveitada para composto orgânico e o plástico é aproveitado para granulado de plástico para fazer novos produtos não alimentares. Todos eles são reaproveitados e valorizados de alguma forma", sublinha.
As cápsulas podem ainda ser transformadas em "têxteis ou pequenos aparelhos eletrónicos", acrescenta Joana Balsemão.
Neste momento, o projeto está a funcionar apenas no município de Cascais, onde são consumidas, em média, 25 milhões de cápsulas por ano. Nas primeiras três semanas, foram recolhidos 220 quilos de cápsulas, um número "significativo", mas a vereadora afirma que "ainda há um caminho para fazer".
A ideia é colocar apenas cápsulas nestes ecocentros. "Um dos problemas dos fluxos é as pessoas misturarem muitas coisas, o que dificulta o tratamento dos materiais. Se houver borra de café solta, que vai haver com certeza, porque há cápsulas que estão mais esmagadas, não é contaminante e acresce à matéria reciclável. O ideal é aproveitarmos o plástico e o alumínio. Também a borra de café mas isso as pessoas podem aproveitar em casa, não é propriamente um material poluente", esclarece a secretária-geral da AICC.
É certo que já existem outros projetos de recolha de cápsulas de café em Portugal, nomeadamente nos supermercados. Ainda assim, com a "sustentabilidade" em mente, Victor Martins, diretor-geral da AICC, defende, em declarações à TSF, que este novo projeto "não substitui os atuais". "É um acréscimo. As pessoas poderão continuar a ir às lojas das marcas, mas agora têm outra alternativa."
"A conveniência que as cápsulas trouxeram fez com que o consumo fosse muito mais em casa", diz Victor Martins. "Houve um aumento exponencial nos últimos anos das máquinas de café, que tornou muito visível o dilema de o que fazer às cápsulas", completa Joana Balsemão.
"A ideia deste sistema é ser complementar aos restantes, porque quanto mais reciclarmos, melhor", garante Cláudia Pimentel.
O plano é expandir o projeto para outros municípios, mas nestes primeiros três meses, o importante "é ver se está tudo a funcionar bem com o transporte, a reciclagem e armazenamento". "Temos que afinar o modelo operacional, mas depois queremos que isto vá para outros municípios", reforça Victor Martins.
Para já, Joana Balsemão deixa um apelo: "Nós como consumidores temos um poder incrível cada vez que tomamos uma decisão sobre o que comprar, o que comer, o que vestir. Para quem consome cápsulas, saber depositá-las devidamente, não as colocar no lixo normal, colocar nos ecocentros em Cascais, nos supermercados ou lojas das marcas. Ter essa consciência já que existe um leque tão variado de soluções à disposição de todos nós."
"Está na mão do consumidor levar a cápsula até ao ponto de recolha para que seja feita a reciclagem", finaliza a secretária-geral da AICC.
