Um calendário anual, transparente e apresentado de uma só vez. A nova presidência da Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT), que hoje toma posse, quer uma agenda planificada dos concursos.
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Em declarações à TSF, o novo presidente da FCT, Paulo Ferrão, não quer concursos de investigação que se sucedem uns atrás dos outros sem se saber qual é o quadro na totalidade. Assim a agenda dos concursos passa a ser apresentada uma vez por ano e os investigadores passam a saber com o que podem contar e com isto Paulo Ferrão quer resolver um problema antigo.
"Um dos problemas da avaliação é que cada vez que a Fundação abre um concurso porque não se sabe quando é o seguinte os programas são inundados de propostas. Queremos que os investigadores em vez de estarem a colocar 10 propostas também se responsabilizem e em vez de 10 coloquem só uma ou duas, reduzindo a pressão sobre o sistema", sublinha Paulo Ferrão.
Neste sentido, o novo presidente esclarece que "para já temos que por em marcha os concursos que já estão decididos. Temos que limar problemas que estão pendentes, em concreto, com os regulamentos dos projetos" e depois, "queremos ter um calendário de abertura de concursos, que queremos afixar e que seja muito claro e que as pessoas se sintam confortáveis nos prazos em que possam apresentar as suas ideias para financiamento, como um fator de descompressão na comunidade", propõe o presidente da FCT.
Paulo Ferrão, Professor do Instituto Superior Técnico e diretor da pareceria MIT-Portugal toma hoje posse como presidente da FCT, que tem passado por problemas com o financiamento dos bolseiros, uma situação que vai ser analisada.
"Queremos que na contratação de doutores que são contratados para as Universidades também haja alguma corresponsabilização das Universidades e que possamos desenvolver mecanismos para garantir carreiras e combater a precariedade", sugere Paulo Ferrão, sem concretizar.
A nova equipa de gestão da FCT vai estar enquadrada por uma "Carta de Princípios de Orientação" que foi desenhada e aceite pelo Governo.
Para Paulo Ferrão "a 'Carta de Princípios' que vem estabelecer a FCT como uma entidade que está ao serviço da comunidade científica e que trabalha para ela para que possa de facto desenvolver-se e assumir maior relevância internacional. E, por isso, naturalmente que a acolhemos muito bem".
A 'Carta' "resulta de um amplo processo de diálogo com a comunidade científica e tendo nascido assim só pode querer dizer que esta nova direção da FCT vai querer usar esse diálogo, vai querer usar esses princípios para que sirvam de guia ao seu dia a dia e estabelecer grandes pontes com a comunidade científica para a fazer avançar e desenvolver", defende.
Entre as recomendações prioritárias da 'carta' constam o apoio ao aumento do financiamento para o setor, o reforço das bolsas de doutoramento, o rejuvenescimento do corpo de investigadores, a revisão da avaliação que é feita aos laboratórios, e da qual depende o financiamento público da atividade que desenvolvem, a desburocratização e envolvimento da comunidade científica nas atividades e na preparação de estratégias e programas.
Avaliação
"É claro que queremos estabelecer regras mais claras de periodicidade de avaliação", adianta Paulo Ferrão.
A FCT deve ter "uma missão constante de apoio e avaliação" e neste sentido deve "promover as avaliações" mas não as faz. "Será a Fundação a promover as avaliações mas serão feitas por peritos internacionais" sublinha Paulo Ferrão que quer "ter as melhores pessoas a avaliar projetos nas suas áreas, isso é absolutamente critico para o sucesso do processo de avaliação".
Assim, "algo que temos que mudar são os processos de avaliação, que deram problemas e criaram desconfiança na comunidade científica, temos que os alterar, temos que os melhorar. Também queremos que a comunidade científica se responsabilize, que haja corresponsabilização", este é o conceito chave de Paulo Ferrão que o repete por diversas vezes ao longo desta conversa: "Essa é para mim a grande palavra: corresponsabilidade de todos os agentes da comunidade científica", conclui.
Mudança de calendário não resolve a sangria criada no sistema científico
André Janeco, da Associação de Bolseiros, não acredita que estas novas regras vão resolver todos os problemas, mas admite que é uma boa ideia, que ainda precisa de ser clarificada. "Toda a comunidade científica criticava não ser possível planear toda a estruturação de investimento da investigação e a própria organização do trabalho".
Quanto à enorme avalanche de candidaturas, André Janeco explica que a mesma "se deveu ao calendário existente mas também à sangria que existiu no sistema científico, especialmente ao nível dos recursos humanos. Essa avalanche de candidaturas não se resolverá apenas com uma mudança de calendário", concluiu.