Há atores ouvintes, atores surdos e atores que também são intérpretes de língua gestual portuguesa. A autora do texto e encenadora é "a senhora do brinco que está sempre a rir"
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Sofia de Portugal trabalha há três anos com atores surdos. Na comunidade é conhecida como "a senhora do brinco que está sempre a rir". E é a rir que confessa: "Uma pessoa entra numa cultura nova e apaixona-se."
A última paragem deste caminho chama-se "A Revolução do Silêncio" e está em cena de 11 a 15 de dezembro, na Biblioteca de Marvila, em Lisboa.
Para aqui chegar, a encenadora percebeu que faltavam palavras na língua gestual portuguesa, palavras básicas da expressão teatral como "folha em branco" ou "posição neutra".
Foi preciso criar um glossário e muitas das novas palavras desta língua tão jovem, conta orgulhosa, "hoje já aparecem no quadradinho das televisões, lá no canto inferior direito".
Com cada vez mais palavras e atores mais profissionais, desta vez, Sofia de Portugal decidiu falar sobre o drama dos refugiados, dos refugiados surdos, dos "que tendem a ser os últimos a fugir", porque sem ouvir têm mais dificuldade em perceber onde está o perigo imediato.
"Recolhemos testemunhos reais de refugiados em Portugal." Foi com eles que Sofia escreveu o texto, "para dar palco a uma realidade que os ouvintes conhecem menos bem".
Neste espetáculo todos se entendem na perfeição. "Os atores ouvintes entendem, mesmo que não dominem a língua gestual portuguesa, os atores surdos compreendem a linguagem teatral". E claro, há sempre dois intérpretes que também atuam.
Encontramo-los a ensaiar no local do espetáculo, onde têm estado "todos os dias até à meia-noite". Ainda sem cenário montado, só com um monte de bonecos a um canto. Chama a atenção o urso sem olhos, mas para perceber a importância deste adereço/personagem é preciso ver a peça. Surdos e ouvintes.
"A Revolução do Silêncio" está em cena na Biblioteca de Marvila desta quarta a sexta-feira às 21h00, no sábado às 14h00 e 21h00 e no domingo às 16h00.