Nove horas, 200 km de bicicleta e duas viagens de barco. Professor Carlos vem a Lisboa manifestar-se
Carlos Azedo é professor de Educação Física em Serpa e vai fazer-se à estrada para estar presente no protesto nacional marcado para este sábado na capital.
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Mais de 200 quilómetros separam a cidade de Serpa, no distrito de Beja, do centro da cidade de Lisboa. O Marquês de Pombal é o local de encontro para os milhares de professores esperados na capital em defesa da escola pública. Quando lá chegar, por volta das 15h00, Carlos já levará nas pernas nove horas de pedaladas.
O plano de Carlos Azedo está preparado ao detalhe. Tudo para estar em Lisboa à hora marcada e sem atrasos. "Vou sair de Serpa às 6h00, fazer a estrada de Beja, Ferreira do Alentejo e depois faço uma pausa no Canal Caveira. Vou tomar o pequeno-almoço, conviver um bocado com alguns colegas que já lá estarão à minha espera", explica o professor.
Depois da pausa, a viagem continua. "Eles seguem de autocarro e eu de bicicleta. Depois apanho o ferry em Troia, atravesso o rio Sado até Setúbal e sigo pela Nacional 10 até Cacilhas, onde apanho o barco e atravesso o Tejo. Espero às 15h00 estar junto dos colegas."
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Para aguentar as quase nove horas de estrada, a marmita deste alentejano vai preparada. "Levo água, umas barras energéticas, géis energéticos, a minha sandes de atum para ganhar um bocadinho de proteína e muita vontade de chegar a Lisboa, sem dúvida", descreve Carlos.
O professor não aderiu às greves que nos últimos meses têm fechado escolas de norte a sul, mas decidiu juntar-se ao protesto convocado pela FENPROF, Federação Nacional de Educação e mais sete sindicatos. O Presidente da República faz parte da explicação.
O docente de Educação Física ouviu o aviso de Marcelo Rebelo de Sousa, que deixou o alerta de que "há um momento em que a opinião pública pode virar-se contra os professores". Perante as palavras do Presidente da República, Carlos Azedo decidiu embarcar na missão com o objetivo de "reconquistar a simpatia da opinião pública".
A mesma experiência, 15 anos depois
A experiência é arrojada, mas não é uma novidade na vida do docente. Em 2008, Carlos foi um dos milhares de professores que participou no protesto contra a avaliação de desempenho proposta pela ministra da Educação da altura, Maria de Lurdes Rodrigues.
Tal como agora, o trajeto entre Serpa e Lisboa também foi à boleia da bicicleta. Aos 62 anos, Carlos Azedo garante que a preparação física continua ao mais alto nível. "Agora tenho uma bicicleta melhor. Mas não é elétrica. Tenho mantido uma atividade física regular e estou convencido de que se calhar ainda aguentarei outros 15 anos", antevê o alentejano.
Desta vez, o professor carrega às costas uma lista de denúncias. "Vou denunciar o facto de estar numa escola que há mais de 40 anos não vê obras significativas, estando a degradar-se de uma forma completamente inconcebível. Vou denunciar uma estrada, a estrada de Beja, que está perfeitamente abandonada. Se não é isto a conquistar a maioria da opinião pública, então não sei o que pode conquistar."
A dose de treino deste fim de semana está mais do que assegurada. Para um próximo fim de semana na estrada, o professor de Educação Física gostava de ter alguns colegas de pelotão especiais.
"Convidaria todos os ministros da Educação dos últimos 40 anos, para que se percebesse o que significa a evolução. Arranjava um pelotão, fazia um percurso mais curto para que os mais velhotes conseguissem aguentar. Desta forma poderiam verificar que a bicicleta anda, mas não avança", sugere.
Pelo menos no domingo vai ter de pedalar mais 200 quilómetros. O regresso a Serpa também vai ser sobre duas rodas, e sem motores.