Com sede em Portugal desde 2015, o Imamat Ismaelita trocou Genebra por Lisboa em troca de um acordo que lhe garante proteção, imunidade e incentivos fiscais
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As boas relações entre a liderança da comunidade ismaelita e os governos portugueses são antigas.
Os primeiros laços foram forjados ainda com Ramalho Eanes na Presidência da República, quando reconheceu a fundação Aga Khan como instituição particular de interesse público, em 1983. Foi desde então autorizada a trabalhar em Portugal e seguiram-se vários protocolos e acordos dos quais citamos alguns.
Já era Mário Soares o inquilino do Palácio de Belém quando, em 1996, a fundação passou a ser uma entidade de direito português, com o argumento de que "volvidos 13 anos após o início da atividade, formou-se o sentimento de que a promoção dos fins que haviam trazido a Fundação Aga Khan para o País será melhor conseguida por uma fundação portuguesa (...)".
Outro acordo de cooperação foi ratificado pelo então chefe de estado Jorge Sampaio, em 2006. Desta vez tratou-se de autorizar a atuação de várias entidades beneméritas ligadas ao 49.º Aga Kahn.
Com Rui Machete nos Negócios Estrangeiros e Passos Coelho como o primeiro-ministro, foi finalmente assinado o acordo maior: transfere para Portugal a sede mundial da representação ismaelita, até então em Genebra, na Suiça.
Foi em 2015, ano que viu Passos Coelho ser reeleito e logo depois afastado por uma moção que levou António Costa à chefia do governo.
Nada abalou o acordo e já no final de 2024, o ministro dos negócios estrangeiros, Paulo Rangel, nomeava os representantes portugueses na comissão mista que zela pelo bom cumprimento do acordo de 2015.
Trata-se de um acordo que tem "duração ilimitada". Ainda assim, pode ser revisto 25 anos depois da assinatura, ou seja, em 2040.
No essencial, o compromisso é que o Imamat Ismaelita instala em Portugal toda a atividade que tem ao serviço das múltiplas ações humanitárias que tem em 28 países.
Em troca, o Estado portugues, concede à representação ismaelita uma série de proteções, imunidades, benefícios e isenções fiscais com que se pretende facilitar o trabalho do Imamat, nomeadamente através da rede Aga Khan para o Desenvolvimento.
Estão abrangidos por estas benesses o Iman, o seu gabinete, a sede do Imamat, mas tambem as instituições dependentes e ainda os altos funcionários e o pessoal da sede.
A sede está atualmente no Palacete Henrique Mendonça, no centro de Lisboa. É oficialmente o Diwan do Imamat Ismaili.
É também este relacionamento que é agora herdado pelo princípe Rahim Al Husseini Aga Khan V, o descendente do profeta Maomé e novo líder dos 15 milhões de ismaelitas espalhados por esse mundo.
Foi e é "um acordo feliz", afima à TSF Azeredo Lopes, antigo ministro da Defesa e ex-coordenador da Comissão Mista que tem zelado pelo seu cumprimento.
Azeredo Lopes considera que é um acordo com benefícios para mabas as partes.
Azeredo Lopes renunciou à função que tinha na Comissão Mista e foi agora subsituído pelo professor Miguel Proença Garcia, da Universidade Católica.