Novo diretor clínico da Saúde na Madeira quer "continuar a pacificação" do setor
Na quinta-feira, 33 dos 50 diretores de serviço do Serviço de Saúde da Madeira apresentaram a demissão em protesto pela nomeação de uma "pessoa que está adstrita aos partidos" que constituem o Governo Regional de coligação PSD/CDS-PP.
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O novo diretor clínico do Serviço de Saúde da Madeira (Sesaram), Mário Pereira, disse esta sexta-feira que pretende "continuar a pacificação" do setor, numa altura em que 33 diretores de serviço se demitiram contra a sua nomeação.
"Sei que há dificuldades. Sei que quando se muda alguma coisa, por vezes há resistências", afirmou Mário Pereira, na cerimónia de tomada de posse, no Hospital Central do Funchal, vincando estar disponível para o diálogo com todos os profissionais.
"Farei tudo para, de alguma forma, continuar a pacificação do Serviço Regional de Saúde e assegurar que todos os médicos serão respeitados", disse.
O novo diretor clínico do Sesaram acrescentou que vai trabalhar "da melhor maneira possível no sentido de que a colaboração entre os médicos e as outras classes profissionais seja a mais respeitosa possível e seja de uma maneira que permita aumentar a eficiência do Serviço Regional de Saúde".
Na quinta-feira, 33 dos 50 diretores de serviço do Sesaram apresentaram a demissão em protesto pela nomeação de uma "pessoa que está adstrita aos partidos" que constituem o Governo Regional de coligação PSD/CDS-PP e ao "abrigo de um acordo de Governo", no âmbito do qual o cargo de diretor clínico seria entregue a um representante do CDS-PP, explicaram os demissionários.
Mário Pereira, médico ortopedista do Sesaram e ex-deputado centrista na Assembleia Legislativa da Madeira, foi, na qualidade de parlamentar, um dos maiores críticos do Sistema Regional de Saúde.
Esta sexta-feira, na tomada de posse, elogiou o programa do Governo para 2020, classificando-o de "excelente" e manifestou-se "muito orgulhoso" em ser diretor clínico de uma instituição que tem um terço dos seus colaboradores médicos com 30 ou menos anos.
"Terei as portas da direção clínica abertas a todos os profissionais sem exceção e iniciarei, já na próxima semana, um conjunto de contactos de forma a ouvir os colegas, ouvir as preocupações e tentar junto do conselho de administração possibilitar a resolução dessas mesmas preocupações", afirmou.
Mário Pereira conta, por outro lado, com o apoio do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, bem como do secretário da Saúde e Proteção Civil, Pedro Ramos.
O chefe do Executivo, que assistiu à tomada de posse, garantiu que "tudo será resolvido", ao passo que Pedro Ramos disse que não vai aceitar a demissão dos diretores de serviço.
"Conto com eles todos, porque o Serviço de Saúde faz-se com as pessoas, faz-se com profissionais que têm responsabilidades acrescidas - os diretores de serviço - e não acredito que em 24 horas tudo o que é o histórico do Sesaram e o sucesso da saúde na Região Autónoma da Madeira possa ser anulado", afirmou Pedro Ramos.
Mário Pereira confiante no apoio dos médicos
Entretanto, o novo diretor clínico sublinhou que "haverá sempre problemas", remetendo a solução dos mesmos para um "trabalho em colaboração".
"Vamos trabalhar, como as anteriores direções clínicas trabalharam, e estou absolutamente confiante que terei o apoio de muitos médicos", disse, reforçando: "Nesta casa, há 704 médicos e vamos tratar todos de igual forma, ou seja, com todo o respeito".
Por outro lado, o secretário da Saúde e Proteção Civil vincou que "a população da Madeira está em primeiro lugar", realçando também que "a saúde não se faz de nomes", mas sim de resultados, onde se destacam, por exemplo, as mais baixas taxas do país ao nível da mortalidade infantil e das doenças oncológicas.
"É o resultado do trabalho de todos os profissionais", disse, sublinhando que o Sesaram conta com mais de cinco mil profissionais nas diversas áreas.
Pedro Ramos realçou ainda que o investimento na saúde, na última legislatura (2015-2019), totalizou dois mil milhões de euros, sendo que o programa do novo governo prevê a continuação do investimento.
Ordem pede que se ouçam os profissionais
O caso está a preocupar Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, que considera "a situação muito grave". A demissão dos profissionais de saúde pode ter um forte impacto naquilo que são os cuidados de saúde e na formação médica, assinala o bastonário.
Para Miguel Guimarães, em declarações à TSF, os médicos têm toda a razão em protestar, uma vez que não é "sensato nomear um diretor clínico que tem problemas com todos os médicos do hospital". O bastonário refere ainda que "se de facto os diretores de serviço se demitirem, a ordem deve considerar a hipótese de suspender os internatos médicos no Hospital Dr. Nélio Mendonça", assegura.
A Ordem dos Médicos considera que a solução está condenada ao insucesso, o que vai causar uma grande instabilidade.
Miguel Guimarães pede ainda ao Governo regional da madeira e à Secretaria de Estado da saúde para pensarem seriamente no assunto: "que façam uma reflexão dos prós e contras que estão em cima da mesa. A saúde tem de ficar de fora das lutas partidárias".
"Esse acordo viola o regulamento"
Filomeno Paulo, chefe do serviço de cirurgia pediátrica do hospital da Madeira, explicou que a maneira como o diretor clínico foi nomeado não respeita o regulamento do Serviço Nacional de Saúde.
"O acordo entre PSD e CDS para a constituição do Governo foi levado até à definição dos órgãos técnicos. Nesse acordo ficou estabelecido que o diretor clínico seria indicado pelo CDS e, no meu entender, esse acordo viola o regulamento", explicou à TSF Filomeno Paulo.
O governo regional não ouviu ninguém neste processo. Há aqui uma total interferência da política na saúde.
"Quanto a mim, o que não devia ter sido feito é ter a secretaria da saúde do PSD, mas uma parte das nomeações, já mesmo a nível técnico, ser o CDS que vai fazer. Inclusivamente faz parte do acordo que o diretor clínico nomeará seis diretores da sua confiança e os outros nem sei quem os vai nomear", acrescentou o chefe do serviço de cirurgia pediátrica do hospital da Madeira.