Novos critérios para entrar nas Forças Armadas mostram "desespero a recrutar efetivo"
Um antigo Chefe do Estado-Maior do Exército e o presidente da Associação Nacional de Sargentos partilham a mesma opinião: a mudança de critérios vem comprovar as dificuldades no recrutamento.
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O Ministério da Defesa Nacional, em comunicado, anunciou que concluiu o processo de revisão dos critérios de ordem física e sensorial para a prestação de serviço militar, agora definidos nas novas Tabelas Gerais de Aptidão e de Capacidade. Luís Pinto Ramalho, antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, criticou na TSF estas mudanças de critérios e defendeu que o Ministério da Defesa Nacional deveria melhorar o reconhecimento da carreira militar.
"Não consigo entender a relevância desta decisão. Se consideram que isto é uma medida estrutural para resolver o problema da falta de efetivos nas Forças Armadas e, em particular, no Exército fico surpreso. Se o esforço do Ministério da Defesa vai neste sentido acho algo surpreendente. Estava a espera que se fosse discutir as políticas públicas de prestação de serviço militar, melhoria condições no ingresso na carreira militar, que se dignificasse a condição e se reconhecesse a atuação dos militares na defesa pública", explicou Luís Pinto Ramalho.
O antigo Chefe do Estado-Maior do Exército nota a forma de atuação do Governo.
"É desespero para a falta de capacidade de resolver o problema. O Exército tem 3985 praças, esta é a realidade do ingresso das portuguesas nas praças do Exército. Está aqui a resposta da atratividade das Forças Armadas e em particular do Exército e das medidas que a Defesa nacional tem feito para resolver o problema. Se realmente a aposta é baixar a altura, acha que é suficiente? Para mim é uma surpresa", confessou o antigo Chefe do Estado-Maior do Exército.
A palavra desespero é também utilizada por António Lima Coelho, presidente da direção da Associação Nacional de Sargentos.
"Uma medida que demonstra dificuldade e desespero na necessidade de cativar a recrutar efetivo nas Forças Armadas. Aquilo que suscitou algum comentário é que para as Forças Armadas há a necessidade de um mínimo de complexão física, não apenas para operar os equipamentos como para os suportar. Não estamos a discriminar ninguém e temos de olhar para isto com o mínimo de seriedade", defendeu António Lima Coelho.
No mesmo tom crítico surgem as palavras de Paulo Amaral, presidente da Associação Nacional de Praças das Forças Armadas que considera que a altura não resolve os problemas do Exército nacional.
"É um fait diver que alguém se lembrou de colocar na comunicação social. A senhora ministra tem de perceber que não é por baixar a altura mínima para 1,54 [metros] que vai resolver a questão do recrutamento. O facto de ter mudado de 1,60 [metros] para 1,64 não vai atrair jovens. É forma de distrair dos problemas fundamentais e fulcrais como o recrutamento e retenção", afirmou Paulo Amaral.
Além da atualização dos requisitos, é também operada uma mudança de paradigma. Passa-se para um modelo que fixa condições gerais comuns à prestação de serviço militar nas Forças Armadas, independentemente do ramo e da classe, arma, serviço ou especialidade. Deste modo, apenas determinadas funções específicas terão critérios diferentes, "definidos complementarmente pelos ramos das Forças Armadas, processo que está em curso", é explicado no comunicado.
Além desta mudança, segundo o Governo, "um grande número de doenças crónicas deixou de ser causa de exclusão automática" de candidatos, como por exemplo a "diabetes tipo 2 não insulino-tratada, disfunções tiroideias e outras de foro endocrinológico" que passam a ser analisadas individualmente em junta médica, tal como acontece para a infeção pelo vírus VIH.