Novos incentivos de acesso às Forças Armadas não convencem Oficiais nem Praças
Presidente da Associação dos Oficiais das Forças Armadas tem dúvidas de que as medidas possam realmente contribuir para um aumento da adesão.
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A Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) e a Associação de Praças (AP) não acreditam que as medidas anunciadas esta quinta-feira pelo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, possam contribuir, de facto, para que mais pessoas adiram às Forças Armadas (FA). O ministro revelou esta quinta-feira que vão existir ajudas para regressar à vida civil, como por exemplo a abertura de vagas especiais na PSP e GNR.
O presidente da AOFA, o tenente-coronel António Mota, está convencido de que as Forças Armadas vão continuar a não ser atrativas. "Não são medidas destas que, isoladamente, vão resolver seja o que for", defende.
António Mota garante que este feedback já foi transmitido ao ministério da Defesa e ao secretário de estado, que ainda assim continuam a "insistir no mesmo tipo de políticas que sabem que, à partida, não vão dar resultado". O presidente da AOFA ressalva, no entanto, que "pontualmente" pode resolver os problemas em situações específicas, especificamente nos ramos que "contariam com as pessoas durante seis anos, e passam a contar durante 18".
Este alargamento do regime de contrato não é atrativo para os oficiais das Forças Armadas porque, segundo António Mota, os oficiais entram com "23, 24 ou 25 anos". Por isto, se ficarem durante os 18 anos, um militar sai das FA com "40 a 43 anos", o que leva o tenente-coronel a questionar "o que é que uma pessoa que sai de uma instituição militar depois faz no mercado de trabalho. Nada é assegurado a estas pessoas", explica.
"Quando se diz que o regime de incentivos para a prever maiores quotas para a entrada de guardas prisionais, para organismos da administração pública ou para a GNR, o que se pode constatar é que nenhum militar com 40 e tal anos vai aderir à GNR. Nem a GNR lá quer alguém com 40 e tal anos", defende. "Se já hoje é difícil para as pessoas que saem (das Forças Armadas) ao fim de seis anos, imagine-se para os que saem ao fim de 18", concluiu António Mota.
O presidente da AOFA estima que o número de efetivos caiu 25% nos últimos seis a sete anos, uma tendência que deve manter-se.
Do lado dos Praças, há uma sintonia quando à ineficácia das medidas para atrair pessoas, especificamente os jovens. Luís Reis, presidente da AP relembra que há "poucos jovens disponíveis, de forma global, e muito menos para a área da Defesa". No mercado de trabalho vai então existir "concorrência" entre todos os setores, pelo que estas medidas têm que ser "alicerçadas" por outras, para que as FA "sejam de facto atrativas".
Luís Reis considera que para se atingir este cenário ideal era necessário dar mais incentivos, como "melhores vencimentos, uma carreira mais digna e progressiva, melhor condiçõe de habitabilidade e fardamento, uma alteração no suplemento de residência". Sobre a extensão da duração dos contratos, que passa de seis para 18 anos, o presidente da AP considera que primeiro é preciso "criar condições de acesso ao mercado de trabalho e a formação", para que as pessoas tenham uma reintegração eficaz na vida civil. "Logo de início, definimos que não estávamos satisfeitos com o alargamento a 18 anos", relembra.