"Nunca gostei da minha voz." Depois de ajustar o corpo, mulher trans trabalha a voz
Susana é uma mulher trans. Depois de ajustar o corpo, sentiu necessidade de trabalhar a voz. É seguida há cerca de um ano na Clínica da Diversidade de Género, no Hospital de S. José, em Lisboa e graças à terapia da fala, ao telefone, já ninguém a confunde com "um senhor". Chama-se "afirmação vocal".
Corpo do artigo
"Nunca gostei da minha voz, nunca me identifiquei com a voz que tinha", conta à TSF Susana. Na vida familiar, no trabalho e sobretudo ao telefone, "havia pessoas que me tratavam por senhora, outras por senhor...".
Já não é assim, Susana está a encontrar a sua própria voz, num trabalho de equipa com Paula Vital. A terapeuta da fala explica que é um processo, leva o seu tempo.
A mudança começou com a terapia hormonal, depois o desafio de ajustar a voz. O ponto de partida foi garantir que "a caixa vocal" de Susana estava saudável. E estava. A seguir, a terapeuta pediu-lhe vários modelos de vozes, de figuras públicas, com que Susana se indentificasse.
"Gosto muito da voz de uma jornalista, a Clara de Sousa, e de uma atriz, a Maria João Bastos." As duas bússolas que Susana apresentou à terapeuta. E foi por aí que foram, à conquista de uma voz nova.
O importante é "que bata tudo certo", diz Paula Vital, "porque cada voz é única, é como uma impressão digital". É preciso que Susana se sinta confortável com a sua voz. Às vezes "ainda resvala" para o tom mais antigo, mais masculino, mas cada vez menos.
Os amigos e a família também se foram adaptando à mudança, às mudanças, mas hoje em dia "muita gente já nem estranha, as pessoas habituaram-se". Susana também já gosta de se ouvir, cada vez mais. Está quase lá.
E será que existe mesmo isso, uma voz masculina e uma voz feminina? A terapeuta ri-se. "Ainda, na minha opinião, ainda, mas há cada vez mais um arco íris de tons entre aquilo que são as referências científicas. Está estudado, a anatomia masculina e feminina são diferetentes.Porque a anatomia masculina e feminina é diferente".
Há casso em que é preciso fazer cirurgia ás cordas vocais, "mas Paula Vital lembra que "não é possível alargar nem encurtar o pescoço", por exemplo.
Esta paciente não precisou de ir tão longe, tem uma voz e uma anatomia vocal saudável, e ao telefone, podemos garantir, já soa a Susana.