O adeus de Arménio Carlos: "Priorizar saldo orçamental é sementeira para o populismo"
Arménio Carlos despede-se de secretário-geral da CGTP, cargo que ocupa desde janeiro de 2012, no XIV congresso, no Seixal.
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Um Arménio Carlos rouco, mas confiante no futuro na hora da despedida como secretário-geral da CGTP. Na hora da despedida, fez um discurso repleto de críticas ao PS, à direita e até a Bruxelas. Quanto ao Governo, Arménio Carlos acusa Costa de se ter aliado a PSD e CDS para mudar a lei do trabalho, o que levou os trabalhadores a intensificar a luta com mais greves.
"A luta cresceu perante a cedência do Governo à política gasta de direita, de um PS que encontrou no PSD e no CDS os aliados para mudar para pior a legislação do trabalho e assim desequilibrar, ainda mais, as relações laborais para o lado dos que vivem à conta da nossa exploração", afirmou.
Com esta posição, o Governo "recusou encontrar solução com os partidos à sua esquerda na Assembleia da República, [e] optou por um acordo com as confederações patronais e a UGT para manter o país amarrado à política de baixos salários".
O líder cessante da CGTP lembrou ainda que, nos últimos anos, houve uma intensificação "face à política laboral de direita do Governo do PS e às posições retrógradas do grande patronato" e enumerou pontos como a redução dos passes de transportes, a gratuitidade dos manuais escolares, a reintrodução de mais escalões de IRS, a recuperação dos feriados e as 35 horas da Administração Pública.
Também a UGT foi alvo de críticas, com Arménio Carlos a recusar vender "gato por lebre" e a assegurar que a CGTP prefere "estar sozinha na defesa dos trabalhadores na Concertação, do que acompanhada a assinar acordos que fragilizam e reduzem os direitos dos trabalhadores".
O alerta para o populismo
Durante o discurso, fortes críticas ainda para o excedente orçamental previsto pelo Governo. "Um Governo que prioriza o saldo orçamental em detrimento da justiça social, é a sementeira para a evolução do populismo e o ressurgimento da extrema-direita, que se alimenta destas contradições, que as usa como elemento de atração, que procura dividir e criar falsos antagonismos entre os explorados, para que prossiga a acumulação dos exploradores", realçou.
O Orçamento do Estado "continua a não dar resposta aos problemas estruturais e não contempla uma visão de futuro", frisando que "pode ser bom para o Eurogrupo", mas "é mau porque não responde às necessidades das populações e ao desenvolvimento do país".
No dia em que termina a liderança na CGTP. Não deixou de estabelecer objetivos para o futuro, a maioria com foco no emprego, desde o "aumento geral dos salários", a aposta num "emprego de qualidade", a "efetivação do direito de contratação coletiva" e a "redução do horário de trabalho".
A regionalização, os serviços públicos e as funções sociais do Estado também não ficaram de parte.