Sete anos depois de "Até Ver a Luz", Basil da Cunha regressa à Reboleira para contar "uma história de regressos, de fins, um retrato de uma juventude e de um espaço social". "Her Name Was Europa" relaciona a relação mítica com um animal com a própria ideia de Europa.
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A história de Spira, 18 anos, de volta ao bairro após oito num centro de detenção juvenil, "os amigos continuam lá, assim como as festas ou os esquemas para ganhar a vida. As retroescavadoras destroem as casas do bairro, Iara entretanto tornou-se uma mulher e o tráfico é sonho e pesadelo".
O protagonista vai "permanentemente testar os outros e ser posto à prova, especialmente por Kikas e a sua autoproclamada autoridade como líder dos negócios obscuros e supremo defensor do bairro e das pessoas. Se a cidade - e o país - já tratam Spira como um estranho, onde poderá ele encontrar um eco de pertença? A resposta estará talvez nos momentos em que investe nas demonstrações de interesse por Iara".
Para Mafalda Melo, diretora e programadora do Indie Lisboa, trata-se de "uma narrativa que vive do desempenho dos atores não-profissionais, que dão volume à elegia que Basil da Cunha parece querer fazer a um espaço e tempo que (não tão) lentamente desaparecem do mapa urbano. Ficção impura que obriga a pensar na realidade dos não-lugares que povoam as cidades, vítimas das políticas que adoecem a sua poesia e os transformam nesta noite escura". No fundo, "a relação entre o eu e o outro e aquilo que encontramos quando estamos muito tempo sem regressar a um local que mudou profundamente", como afirma a programadora do festival em entrevista à TSF. "O Fim do Mundo" é exibido às 18h45 na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge.
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Em "Her Name Was Europa", a dupla David González Monroy e Anja Dorniden, na sua primeira longa-metragem, "trabalha a ficção e a fábula a partir de argumentos científicos".
O filme é uma investigação sobre o auroque (ou Uruz), "uma espécie do gado bovino selvagem que habitou regiões da Europa, Ásia e norte de África. É considerado o antepassado do atual gado doméstico e é o primeiro caso de extinção a ser documentado, como consequência da elevada caça à espécie e da introdução do gado moderno. Acredita-se que o declínio e extinção dos últimos Auroques selvagens se verificou em 1627 na floresta Jaktorów, Polónia.
Apesar de o Auroque ser considerado fonte para alimento, distingue-se pelos seus traços físicos como a força, velocidade, resistência e coragem. Contudo, estes traços físicos interligam-se com poderes simbólicos, derivados de uma superstição associada a certas integrantes do animal. Elementos como a pele do crânio e um osso em forma de cruz perto do coração eram cobiçados pelas suas propriedades mágicas e sobrenaturais O desaparecimento e a tentativa de recuperação deste mítico animal é o ponto de partida para uma relação com uma também mítica noção de Europa", escreveu a também realizadora Inês Lima Torres na apresentação do filme, no site do Indie Lisboa.
Mafalda Melo acrescenta que este filme "não é só uma viagem, mas também uma viagem pela história do cinema, porque com recurso a uma imagem de 16 mm e um uso muito meticuloso mas inventivo do som, conseguem construir uma história impressionante à volta deste animal, que é, no fundo, uma analogia com a Europa".
No fundo, os realizadores exploram as tentativas modernas de "ressuscitar o Auroque da eterna extinção". O filme é exibido às 19h00 no Grande Auditório da Culturgest.