Fizeram caminhos paralelos no combate à ditadura. Duarte passou cinco dos seis anos que esteve preso às ordens de Salazar no Forte de Peniche. Sara pertencia à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, recolhia donativos e levava comida aos presos mais pobres
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Duarte Nuno e Sara Pinto lutaram do mesmo lado contra a ditadura: ele foi preso político e ela levava comida aos presos, mas só se conheceram em liberdade.
Moram em Loures, não muito longe da tipografia clandestina onde Duarte foi preso faz agora uns 60 anos. Têm filhos e netos, e não guardam qualquer memória dourada do casamento: "Ao contrário do previsto, acabamos por não almoçar os dois sozinhos, os nosso amigos apareceram no registo civil. Tínhamos filhos já. Era assim naquela altura." Encolhem-se indiferentes os ombros de Sara.
Duarte e Sara são ambos de Torres Vedras, nunca puderam contar com a família dele. "Era uma família abastada, tinha 12 irmãos", comenta Duarte, como quem pede desculpa. "Eram monárquicos, era Deus, Pátria, Família", justifica Sara.
Fizeram caminhos paralelos no combate à ditadura. Duarte passou cinco dos seis anos que esteve preso às ordens de Salazar no Forte de Peniche. Sara pertencia à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, recolhia donativos e levava comida aos presos mais pobres.
"Mal saiu da prisão veio bater-me à porta!", conta Sara. "Lá teve de ser...", ri baixinho Duarte. A família nunca o visitou na prisão.