O caso "singular" da Madeira e a eleição (ou não) do Chega: "Alberto João utilizou sempre esse estilo"
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A Madeira é um "caso singular na Europa". O mesmo partido lidera o Governo há 47 anos e, para as eleições do próximo domingo, as sondagens indicam que o PSD deverá continuar a liderar o Governo, de novo em coligação com o CDS-PP. O Chega espera eleger pelo menos um deputado, mas a Madeira pode ser um território difícil de explorar.
Desde 2011 que a economia está a desacelerar, na região autónoma da Madeira, e a taxa de pobreza também aumentou. Ainda assim, a professora de Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Teresa Ruel, que também é madeirense, lembra que a "obra pública dá nas vistas" e o acesso à saúde enche o olho.
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Em conversa com a TSF, na antevisão das eleições regionais, Teresa Ruel nota que "o trabalho da oposição é muito inglório", já que todas as iniciativas esbarram nas maiorias absolutas consecutivas: primeiro com Alberto João Jardim e agora com Miguel Albuquerque.
A investigadora, puxando pelos valores das sondagens, admite que a vitória será de Miguel Albuquerque, que concorre em coligação com o CDS-PP. Resta saber se, depois de ter perdido a maioria absoluta, vai reconquistá-la quatro anos depois. A chave pode estar no crescimento dos pequenos partidos, da direita à esquerda.
Quais são as perdas iminentes e para onde é que essas perdas vão pender?
"Quanto é que o PSD-CDS consegue segurar e quanto é que o PS também consegue segurar? Isto é, quais são as perdas iminentes que estão em jogo e para onde é que essas perdas vão pender", questiona a investigadora.
Teresa Ruel critica, no entanto, o tom da campanha eleitoral que não permite que existam alternativas para os eleitores. Por um lado, "Miguel Albuquerque exclui o Chega à segunda, terça e quarta, e à quinta, sexta, sábado e domingo não fecha a porta". E o PS "diz que tem a solução para todos os problemas".
"Para um eleitor indeciso, esta não é uma mensagem e um argumento que possa ajudar a decidir o sentido de voto", lamenta.
A investigadora entende que o PS perdeu uma oportunidade com Paulo Cafôfo, que é agora secretário de Estado das Comunidades, depois de um bom resultado nas regionais de 2019, elegendo 19 deputados, a dois do PSD. "A cada perda eleitoral há um jogo de cadeiras" no PS, que não permite a construção de uma alternativa.
Estilo do Chega "não é novidade"
Há quem veja no Chega a solução para o futuro Governo madeirense, caso a coligação PSD - CDS não consiga a maioria absoluta, no entanto, Teresa Ruel nem garante que o partido de André Ventura consiga eleger deputados: "O estilo do Chega não é novidade na Madeira".
"Ouvimos, com o aparecimento do Chega e de outros partidos na Europa ocidental, a palavra populista. Na verdade, se formos ver, Alberto João Jardim utilizou este estilo desde sempre", lembra.
Captar eleitorado na Madeira pode ser mais difícil para André Ventura, ao contrário da realidade no continente, até porque toda a oposição fala na necessidade de "combater a corrupção", uma das bandeiras do Chega.
Os acordos dependerão de muitas variáveis, incluindo da vontade do CDS
E, num possível acordo de incidência parlamentar, a investigadora dá destaque ao CDS-PP, que está no Governo há quatro anos apesar de ter perdido vários deputados em 2019, e pode opor-se a um acordo com André Ventura.
"As coligações ou os acordos parlamentares dependerão de muitas variáveis. Designadamente do posicionamento do parceiro de coligação. Daquilo que o CDS tem a dizer", nota.
Teresa Ruel admite até que a coligação PSD-CDS possa governar acordo a acordo, como acontece atualmente nos Açores, depois de a Iniciativa Liberal e o Chega terem rasgado acordo de incidência parlamentar com o PSD. São dúvidas para dissipar já no próximo domingo, quando se contarem os votos nas regionais da Madeira.
