"O cigarro eletrónico é uma ilusão" e não entra na consulta de cessação tabágica
O tabagismo continua a ser uma das principais causas evitáveis de doença e morte a nível mundial. No Dia Europeu do ex-Fumador acompanhamos a consulta de cessação tabágica do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia.
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Aqui, o cigarro eletrónico não é uma alternativa, e o elevado preço dos tratamentos é um obstáculo para quem quer cessar o consumo. A ideia de que controlam o vício e de que é só um cigarro são os erros mais comuns. As consultas de cessação tabágica duram em média um ano, mas o plano é adequado ao perfil de quem procura ajuda. Ivone Pascoal, coordenadora da consulta de cessação tabágica no centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, explica que o primeiro passo é conhecer o fumador.
"Numa primeira fase é preciso conhecer rotinas, o grau de dependência, e aconselha-se o fumador a mudar rotinas, rituais, cortar os cigarros automáticos e pensar numa data para deixar de fumar."
A consulta é procurada na maioria por pessoas com problemas de saúde associados ao tabagismo. São poucos os que aqui vêm por iniciativa própria, o que acaba por refletir-se na baixa taxa de sucesso. "A terapêutica farmacológica duplica. Triplica a probabilidade de sucesso mas num fumador muito motivado para deixar de fumar."
A consulta de cessação tabágica conta com o apoio de outras especialidades, como a psicologia e a nutrição. Ivone Pascoal, a coordenadora, sublinha que sem força de vontade não há milagres. "A taxa de sucesso anda à volta de 30%, com cerca de 20% de fumadores que abandonam o processo logo nas primeiras consultas, nem chegam a avançar".
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José Silva tem 46 anos e fuma há mais de 30. Desde janeiro que é seguido na consulta de cessação tabágica. "Tive um enfarte do miocárdio e isto não é bom para a minha saúde. De vez em quando ainda vou fumando um cigarro por dia, não é fácil. A maior dificuldade é ver os outros, mentalmente é muito cansativo"
José Silva diz que o preço do tratamento não ajuda. "Usei uns pensos nas costas, durante três meses, mas depois acabaram os pensos e voltei a fumar um cigarro por dia. A medicação é muito cara, a primeira dose de pensos custa 95 euros e só dá para um mês".
A pneumologista Ivone Pascoal explica que só um dos fármacos é comparticipado."Isto não é muito acessível, temos dificuldades em pessoas que até tinham indicação para prolongar a terapêutica, mas não têm meios para manter a terapêutica."
A coordenadora das consultas de cessação tabágica afirma que aqui não há lugar para o cigarro eletrónico. "Temos nicotina noutras formas, em adesivos transgénicos, em pastilhas e até há um spray oral e com estudos de segurança e eficácia como os fármacos. O cigarro eletrotécnico não tem essa segurança."
A mensagem é: não fumar. "Pode haver constituintes do cigarro eletrónico que são diferentes e com uma concentração diferente da do fumo do cigarro, mas a mensagem é: o que devemos respirar é ar puro. O cigarro eletrónico com a ilusão enganosa de que é vapor cria a ilusão de que é algo inocente que só tem vapor de água e como sabemos não é verdade."
Dados da Direção Geral de Saúde mostram que sete em cada dez fumadores manifestam vontade de cessar o consumo.