As suas convicções políticas valeram-lhe, logo aos 14 anos, as primeiras pancadas da polícia, durante uma manifestação. Não foi, no entanto, o único problema com as autoridades.
Corpo do artigo
Jornalista do tempo em que era preciso fintar a censura, Ruben de Carvalho começou a sua carreira em 1963. O histórico comunista trabalhou na revista "Vida Mundial", no diário extinto "O Século" e no "Avante!", publicação do PCP.
Para além de ter escrito para jornais e revistas, Ruben de Carvalho passou ainda pela telefonia de Lisboa, e marcou a História radiofónica portuguesa, com vários programas de rádio.
Dessa paixão pelo som, nasceram também vários textos sobre o fado e a música popular portuguesa. Esse conhecimento profundo levou-o até à liderança da organização da Festa do Avante em 1976 e nas 39 edições seguintes.
10998424
No entanto, a vida de Ruben de Carvalho passou por uma tomada de partido desde cedo. O comunista pertenceu ao Comité Central do PCP, e foi ainda deputado da Assembleia da República e vereador da Câmara Municipal de Lisboa entre 2005 e 2013.
Sobre esses tempos na autarquia da capital em que trabalhou diretamente com António Costa, Ruben de Carvalho definiu o atual primeiro-ministro como um homem mais à esquerda dentro do PS, numa entrevista ao Observador. Ainda assim, o político assumiu-se suspeito para falar de Costa, já que tinha literalmente andado com o socialista ao colo. Os pais de ambos eram amigos, tinha Ruben de Carvalho 18 anos e António Costa dois ou três.
A costela de esquerda foi herdada dos pais, especialmente da mãe, que foi militante do PCP desde 1930. Na árvore genealógica do histórico comunista, há ainda um bisavô vice-governador da Índia e outro governador de São Tomé. Um dos avôs era monárquico, o outro era republicano.
As suas convicções políticas valeram-lhe, logo aos 14 anos, as primeiras pancadas da polícia, durante uma manifestação. Não foi, no entanto, o único problema com as autoridades.
Preso pela primeira vez em 1962, foi detido mais cinco vezes, e recebeu o tratamento "habitual": tortura do sono e isolamento, sem qualquer acusação.
Só não esteve preso em Peniche, contou o militante do PCP ao Observador, mas recebeu do fascismo todas as suas "finezas". Teve medo, não receou admitir, e acrescentou que mandaria dar uma volta de bicicleta quem dissesse nunca o ter sentido.