Porque é que os cidadãos estão de costas voltadas para a política? A culpa é de todos, tal como em "Um Crime no Expresso do Oriente", de Agatha Christie. E a reflexão está no livro "Os bastidores do poder", de Vasco Ribeiro. Não há inocentes nesta história.
Corpo do artigo
Como é que se comunica um político? É uma das perguntas que dá origem ao livro de Vasco Ribeiro. "Hoje em dia um político é comunicado muito mais pelo lado pessoal do que pelas ideias de governação, porque é uma chatice para a comunicação social andar a fazer peças sobre macroeconomia ou sobre temas ainda mais complicados de governação e é mais agradável e mais fácil criar uma peça através do lado pessoal, do caricato, do colorido da família ou até do seu passado profissional", explica o professor de comunicação política na Universidade do Porto e ex-assessor do PS.
Isto torna o trabalho mais fácil aos jornalistas e torna o trabalho mais fácil também aos políticos: "É mais fácil para todos: para o político, porque não fala de ideias de governação, não tem que prestar contas nem apresentar números; para o spin doctor porque tudo é controlado, não há erros nem gafes, só se mostra parte dos bastidores, simula-se uma abertura e é melhor para os jornalistas porque têm maior audiência e a opinião pública também gosta disto". O "grande problema" é que a opinião pública torna-se menos esclarecida.
Esta crise da comunicação política faz com que se vá alargando o divórcio entre eleitos e eleitores, o que faz aumentar a abstenção. E a culpa, está bom de ver, é de todos, como no Expresso do Oriente, de Agatha Christie: "Não foi um que matou, mas foram todos os passageiros e aqui é igual". Neste caso, os passageiros criminosos são os políticos, os assessores e os jornalistas.
O livro inclui entrevistas a vários jornalistas editores de política, assessores partidários e políticos, como José Sócrates e Santana Lopes.
"Os bastidores do poder" é lançado esta sexta-feira em Lisboa, às 18h45, na livraria Almedina, do Atrium Saldanha.