O debate entre Catarina Martins e Cristas onde a falta de acordo foi protagonista
Líderes do Bloco de Esquerda e CDS-PP reconhecem que "não há muitos pontos de contacto" entre os programas eleitorais dos partidos que representam.
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Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE), e Assunção Cristas, do CDS, estão em lados políticos opostos, e protagonizaram esta terça-feira um frente-a-frente eleitoral em que nunca estiveram de acordo, muito menos na política fiscal e nos impostos.
Num debate de pouco mais de 30 minutos na RTP3, Catarina Martins apontou ao "aumento brutal de impostos" que o ex-ministro das Finanças Carlos Gaspar, do anterior Governo PSD/CDS, ao que Assunção Cristas respondeu que o atual executivo, apoiado pelo BE, é "culpado" da "maior carga fiscal de sempre" no país.
O tom da conversa, moderada pelo jornalista António José Teixeira, foi cordato, mas uma e outra preparou argumentos para responder, a partir dos programas eleitorais, reconhecendo, ambas, que "não há muitos pontos de contacto" entre as duas formações que lideram, uma à esquerda, outra à direita.
No programa eleitoral do BE, Cristas - tal como Catarina, quase sempre sorridente - afirmou ver um "aumento da carga fiscal" e até o fim de isenções fiscais justas para, por exemplo, casais que trocam de casa e passariam a ter de pagar mais-valias, ao contrário do que acontece agora.
Catarina Martins aconselhou a sua adversária a "ler melhor" o que os bloquistas propõem, e recordou, sem se referir diretamente ao Governo minoritário do PS que o BE apoiou, que nos últimos quatro anos foi necessário "desfazer o 'enorme aumento de impostos'" do anterior executivo de direita.
"Não sei que famílias a dra. Assunção Cristas conhece, mas as que eu conheço estão a pagar menos impostos", e "quem ganha dinheiro do seu salário, não o põe em 'offshore'", atirou a líder bloquista, para quem o CDS defende uma "economia de 'offshore'"
Ao que Cristas ripostou com o argumento de que não é possível comparar os "tempos de excecionalidade" do Governo PSD/CDS, sob intervenção da "troika", com os tempos atuais.
"O aumento de impostos de Vítor Gaspar foi revogado pela carga fiscal máxima de Mário Centeno, do seu governo, do governo que o Bloco de Esquerda apoia", disse.
Se a "receita fiscal aumentou", argumentou a dirigente bloquista, foi porque "a economia está melhor" e, nos últimos quatro anos, o "rendimento disponível aumentou 8,2%" em Portugal, acima da média da OCDE.
Ao longo de mais de 30 minutos, as lideres do CDS e do BE estiveram de acordo, em questões de principio, como o ambiente, alterações climáticas ou a igualdade de género, mas divergiram logo a seguir quanto às propostas que defendem.
Enquanto a líder do CDS pôs a ênfase, por exemplo, no aumento, até um ano, da licença de parentalidade, como é proposto no programa eleitoral centrista, já a coordenadora do Bloco sublinhou a necessidade de ter leis laborais que protejam a mulher.
Mais um tema de desacordo quanto às políticas a seguir foi o do investimento, em que Assunção Cristas defendeu maior investimento privado, enquanto Catarina Martins seguiu as propostas do manifesto eleitoral bloquista, para que seja possível existirem 100 mil novas casas para arrendamento.
"Ou o pais investe ou não resolvermos os problemas que temos", afirmou Catarina Martins.
O único momento que revelou alguma tensão entre as duas líderes foi quando Catarina Martins que recordou a "amnistia fiscal de Paulo Núncio", ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo anterior, o que valeu a acusação de Cristas de o BE usar este tipo de temas como "uma espécie de superioridade moral" sobre os adversários.
Os "duelos" televisivos entre os líderes dos partidos com representação parlamentar começaram na segunda-feira e prolongam-se até dia 23 de setembro, estando previsto um debate entre todos os partidos concorrentes.
As eleições legislativas estão marcadas para 06 de outubro.