Catarina Martins aponta que a "transparência e a clareza" são fundamentais.
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Catarina Martins esquiva-se à pergunta sobre uma possível coligação do Bloco de Esquerda com outros partidos. A líder do Bloco responde, em entrevista à TVI, que importa ao seu partido pensar num Governo que "aumente significativamente o salário mínimo nacional" e que faça eco das reivindicações do BE.
"O resto vai ser decidido pela força dos votos", refere Catarina Martins, que aponta outras prioridades: contratar 18.000 profissionais de saúde para o SNS, discutir as leis laborais para trabalhos por turno e repensar as pensões.
A líder do Bloco de Esquerda refere que "fizeram bem há quatro anos" quando ratificaram um acordo para uma governação conjunta. "Não é um acordo entre partidos, é um acordo com o país."
O Governo tem vindo a adiar despesas que estão orçamentadas, que têm de ser feitas
Questionada sobre a importância de um acordo por escrito, Catarina Martins aponta que a "transparência e a clareza" são fundamentais.
Apesar disso, Catarina Martins rejeita uma maioria absoluta, a qual, na perspetiva da candidata às Legislativas, não teria os interesses do país em conta. "Dir-me-á: tinha de ser diferente? Tinha. O BE precisa de mais de 10%", atirou.
A parceira de geringonça deixa duras críticas ao Governo: "No afã de fazer números sucessivos de recordes de défice, o Governo tem vindo a adiar despesas que estão orçamentadas, que têm de ser feitas e, portanto, fora do âmbito da Assembleia da República."
Este é um país em que ainda há pessoas que fazem escolhas muito difíceis, entre comprar medicamentos e pagar a renda da casa.
"Há quatro anos, insistimos muito que no acordo estivesse incluída a trajetória do salário mínimo nacional. Poderia subir mais, mas nunca menos do que 5% ao ano. Isso criou um sentimento de segurança, porque 700.000 trabalhadores souberam, desde logo, dessa trajetória mínima", diz Catarina Martins, que frisa que as pensões não foram congeladas, ao contrário do que o PS pretendia em 2015.
"Isto ainda é insuficiente. Este é um país em que ainda há pessoas que fazem escolhas muito difíceis, entre comprar medicamentos e pagar a renda da casa."
Estas são medidas fundamentais para que a líder do BE possa contemplar a possibilidade de uma aliança: "um Governo que acabe com o abuso do trabalho temporário, que garanta salários mínimos, pensões dignas e um investimento no SNS".
"Temos um dos melhores sistemas nacionais de saúde do mundo, porque atendemos pessoas de qualquer condição, mas neste momento está fragilizado", assegura. Catarina Martins censura a "promiscuidade" entre o setor privado e o público, o que prejudica, diz a bloquista, o investimento na saúde.
Tínhamos um plano traçado pelas esquerdas e comunicado ao PS para o combate à precariedade, mas o Partido Socialista foi, depois, negociar com as entidades patronais.
Outro dos problemas que a representante do BE elenca é a falta de compensação das forças de segurança, bem como a falta de equipamento. "É absolutamente injustificável pedir tanto de um polícia e fazê-lo receber tão pouco."
Catarina Martins aponta também o contrassenso dos partidos que assinalam que pode estar iminente uma crise, mas que não apresentam soluções ou planos para a contornar. "O BE apresenta um programa", salienta.
Sobre as decisões da direita, a representante do Bloco diz que nem tudo foi desfeito, estando ainda em vigor a afamada Lei Cristas na área da habitação. A líder do partido de esquerda diz levar a sério discutir medidas concretas, e tece críticas ao Partido Socialista que não se mostrou disposto a ir mais longe na segurança relativa às rendas e habitação.
"Temos graves problemas quanto às leis laborais. Tínhamos um plano traçado pelas esquerdas e comunicado ao PS para o combate à precariedade, mas o Partido Socialista foi, depois, negociar com as entidades patronais", argumenta. Catarina Martins lamenta que as férias tenham voltado aos 22 dias e não aos 25, o que se reflete "num abuso no que toca às horas extraordinárias".
O défice real se calhar é bem maior do que aquele que está mascarado nas contas.
Aliás, Catarina Martins chega mesmo a apontar que o Bloco de Esquerda foi, ao longo de quatro anos, "a estabilidade", em oposição ao partido de Costa. "Todas as negociações que fizemos levámos até ao fim, de uma forma muito segura e muito clara. Se houve partido que teve recuos e ziguezagues foi o Partido Socialista. Não foi o Bloco de Esquerda."
"O Bloco de Esquerda foi sempre a estabilidade", afiança.
"Serviços públicos que necessitam de investimento" são outro dos focos da líder partidária.
"O Bloco de Esquerda é de contas certas e não quer um défice que não se justifique", afirma Catarina Martins. "O défice real se calhar é bem maior do que aquele que está mascarado nas contas", alega a líder do BE.
Catarina Martins sublinhou que os partidos à esquerda cumpriram o acordado há quatro anos e que, pelo contrário, o PS se esquivou a alguns compromissos. As críticas ao Partido Socialista não ficam por aqui: na perspetiva da representante do Bloco, o que António Costa fez relativamente ao descongelamento total da carreira dos professores foi uma "chantagem com a direita", "criando uma crise artificial".
O Bloco de Esquerda está comprometido com a contratação de 120.000 funcionários públicos em quatro anos, a recuperação do controlo de empresas como os CTT, fim das propinas e das taxas moderadoras. Catarina Martins defende as contratações no setor público com as reformas que entrarão em vigor nos próximos anos.
A reestruturação da dívida é hoje mais fácil do que nunca.
A líder partidária quer ainda retomar os escalões anteriores à governação de Vítor Gaspar, e propõe também que "quem ganhe menos pague menos e quem ganhe mais pague mais". Com o englobamento do IRS, essa compensação pode ser garantida, analisa Catarina Martins.
A bloquista assevera que foi relevante aumentar a taxa de emprego ao mesmo tempo que foi conseguida a subida dos salários. Sobre a inexistência de medidas no programa eleitoral do seu partido direcionadas para a iniciativa privada, Catarina Martins critica a indiferença relativamente aos seus trabalhadores precários, com "contratos abusivos". "Uma economia mais justa e qualificada" é o que diz defender a líder partidária de esquerda.
Quanto à lei da identidade de género, Catarina Martins defende que as escolhas da criança devem acompanhar a sua transformação, de forma a combater o bullying e a violência.
Na lista de temas abordados, surgiu também o euro, já que a líder do Bloco considera que "a União Europeia é muito desequilibrada". "A reestruturação da dívida é hoje mais fácil do que nunca", analisa.