No Fórum TSF, o bastonário Carlos Cortes sublinha o "receio" de que os cuidados na área materno-infantil "possam estar a regredir", enquanto a sindicalista Bordalo e Sá aponta que profissionais de saúde ainda não estão no período de férias: "Serviços fecham porque não há médicos suficientes para garantir essas escalas"
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Fim de semana prolongado, várias urgências encerradas, a maioria de obstetrícia e ginecologia. Nos últimos dias, duas mulheres tiveram os seus bebés em ambulâncias. É um cenário que cria um "sentimento de insegurança junto das grávidas e as afasta do SNS", sendo que esta falta de acesso a cuidados dignos representa "uma forma de violência", como foi debatido no Fórum TSF desta quinta-feira.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, alerta para o "sentimento de insegurança junto das grávidas que, neste momento, se afastam do Serviço Nacional de Saúde" por "medo". Dado isto, assume o "receio" de que os cuidados na área materno-infantil "possam estar a regredir em Portugal".
Por outro lado, Carlos Cortes critica "a espécie de aceitação, de normalização daquilo que não devia acontecer". O foco está virado para debates "completamente desnecessários", como saber se estiveram mais urgências fechadas esta Páscoa ou na anterior, prossegue. A "enorme preocupação" da OM é, antes de mais, a escassez de especialistas de medicina interna, "um pilar absolutamente fundamental" nos hospitais.
Já a dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Guadalupe Simões, acredita que "esta desorganização e este deixa andar" irá refletir-se nos indicadores de Portugal no que diz respeito, por exemplo, à mortalidade infantil.
Na leitura do presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, Nuno Clode, está a ser colocada em causa a transmissão de conhecimento médico: a obstetrícia está "entregue a gente muito nova, com pouca experiência ou à figura de tarefeiros".
Por sua vez, o vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Eduardo Correia, admite que o aumento de partos nas ambulâncias expõe "as dificuldades" vividas nas urgências. Sublinhando a disponibilidade dos bombeiros para acorrer a estas situações e que, até agora, "não tem havido nenhuma situação com maus resultados", o responsável usa o ditado português Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia lá deixa a asa para afirmar que "o potencial de asneira" existe e "cresce" em cenários de risco.
"A falta de acesso a cuidados" constitui por si só uma forma de "violência obstetrícia sistémica e estrutural", aponta ainda Carla Santos, do Observatório de Violência Obstétrica. "A responsabilidade tem uma cara e é a de Ana Paula Martins", acusa.
Nesta linha, também a presidente da Federação Nacional dos Médicos, Joana Bordalo e Sá, acusa a ministra da Saúde de "intransigência" e de "não ter implementado uma única solução que trouxesse mais médicos para o SNS".
Avisa igualmente que "a situação poderá agravar-se ainda mais" : "Nós não estamos numa altura de época alta, por assim dizer, em termos de férias. Os serviços encerram porque não há médicos suficientes para garantir essas escalas", justifica.

