O espargo perfeito e como o preparar. Para desconstruir ideia de um vegetal gourmet
Não é uma cultura representativa da produção agrícola nacional nem produto tradicional da gastronomia portuguesa, mas os produtores de espargo estão apostados em conquistar mercado e desconstruir a ideia de um vegetal "gourmet".
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Reunidos no 'I Encontro Nacional dos Produtores de Espargo', que decorre esta sexta-feira na Casa das Artes de Felgueiras, promovido pela Cooperativa Agrícola Terras de Felgueiras, em parceria com as empresas Villabosque (Santarém) e Vale de Ceras (Tomar) e com a colaboração de especialistas e técnicos profissionais portugueses e internacionais, os cerca de 120 produtores nacionais vão discutir a importância da comunicação, a produção e a comercialização do produto.
Na altura da apanha, os espargos querem-se com mais de 25 centímetros, direitos, sem sujidades ou terra, coroa fechada, sem defeitos e com algum calibre. Já na cozinha, o espargo não requer grande capricho: "É tão simples como cozê-los em água, uma pequena fervura, e salteá-los com ovos. Outra maneira simples é enrolá-los com fatias de presunto e levá-los à frigideira. Aliás, os chefs de cozinha dizem que para ver se são bons vão ao campo e mandam-lhes uma trinca. Portanto, é um produto muito fácil de cozinhar", refere Rui Pinto, diretor da Cooperativa Agrícola de Felgueiras.
O desconhecimento sobre a forma de os preparar, mas sobretudo o preço têm retraído a procura em Portugal.
"É um preço de prateleira caro. No supermercado o preço está entre 15 e 16 euros o quilo e as senhoras, para testarem um prato que depois pode correr mal, não o compram. Mas é um produto que tem muitas potencialidades nutricionais, muito vocacionado para o estilo gourmet e consumido, sobretudo, nos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto", tendência que os produtores de espargo querem contrariar.
Serão 120 os produtores nacionais que ainda não têm uma associação representativa. A cultura do espargo tem sido a grande aposta desde há meia dúzia de anos da Cooperativa Agrícola "Terras de Felgueiras", que concentra 25 produtores.
"Temos dois perfis, o agricultor de média idade que faz a cultura de espargo compatibilizando com outras culturas que predominam na região, a vinha e os kiwis, e já temos um franja de novos produtores biológicos que vêm na produção do espargo biológico um caminho de futuro, com uma procura cada vez maior", retrata o diretor da cooperativa.
Tem boa rentabilidade, escoamento garantido e uma cultura "relativamente fácil, sem nenhum sistema de condução. Ainda não temos doenças, felizmente. Tem sim picos de trabalho, na apanha que na nossa região decorre entre 15 de março e 15 de junho. São 12 semanas de trabalho intenso em que as pessoas nem têm tempo para receber o padre na Páscoa".
É uma cultura fácil mas, adverte Rui Pinto, é só para quem sabe: "Queremos afastar os curiosos, os paraquedistas... não queremos que seja uma cultura de moda, em que daqui a meia dúzia de anos esteja esquecida mas que seja uma cultura de futuro e alternativa a outras culturas que não têm tanto futuro".
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O investimento inicial ronda os 18 mil euros, sendo 75% investido no preço das garras "os bolbos que são colocados no solo" que darão os espargos passados dois a três anos.
O potencial é de 5 a 6 toneladas por hectare, pago ao produtor a 4 euros o quilo. "Acho que é muito bom quando comparado com outras culturas que têm produtividades maiores mas o preço unitário pago ao produtor é menor", acrescenta.
Na campanha de 2018 a Cooperativa Agrícola "Terras de Felgueiras" recolheu 16 toneladas de 25 produtores, a maioria exportada para Espanha. "No ano passado já mandamos cerca de uma tonelada para França, agora temos que ter volume para satisfazer outros mercados do centro da Europa", revela Rui Pinto. Em Portugal só fica 30% da produção.