João Cotrim Figueiredo vai mais longe e diz que o banco público se comporta hoje como se de um banco privado se tratasse.
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O deputado do partido Iniciativa Liberal defende que "o Estado não deve ser dono de bancos", na entrevista TSF/DN deste domingo. João Cotrim Figueiredo acrescenta ainda que "se um banco tiver problemas, o Estado não tem de o resgatar".
"O Estado não deve ser dono de bancos. Não há nenhum motivo para o Estado ser dono de um banco. Segundo, se um banco tiver problemas, seja ele de que natureza for - cooperativo, privado ou o que quiser -, o Estado não tem de resgatar. OK? Para aqueles que acham que os liberais são os defensores máximos de tudo o que é capital, é o contrário. Somos defensores máximos das pessoas e as pessoas não podem ser obrigadas a pagar por prejuízos feitos por terceiros, Deus sabe com que tipo de decisões de crédito ou de compadrio ou do que for", adianta.
João Cotrim Figueiredo sublinha que o argumento de que a decisão de não resgatar um banco pode pôr em causa o equilíbrio do sistema financeiro não o convence: "Nunca o vi suficientemente justificado".
Questionado sobre se não resgatar o BES provocaria um erro sistémico, Cotrim Figueiredo mostra incertezas: "O BES tinha um nível de dívida muito impressionante, muito elevado. Não sei se provocava um risco sistémico, não sei. Nunca vi esta justificação. Admito que sim, os números eram muito elevados. Mesmo assim era preferível ter arranjado uma solução em que não fosse o dinheiro dos contribuintes a resolver o assunto."
Sobre a Caixa Geral de Depósitos, Cotrim Figueiredo adianta que o banco público acabou de ser "condenado há dois meses como um dos principais bancos num cartel dos spreads no crédito à habitação".
"A CGD acabou de estar envolvida numa série de créditos ruinosos, alguns deles bem conhecidos e discutidos na praça pública, concedidos durante anos a amigos do sistema, a amigos não sei de quem. Diga-me o que é que a Caixa ajudou ao sistema financeiro estabilizar. Se a noção de ajudar a economia é permitir que empresas que são de amigos sobrevivam sem real mérito para o fazer, então não quero nada disso", atira.
João Cotrim Figueiredo vai mais longe e diz que o banco público se comporta hoje como se de um banco privado se tratasse.
"A Caixa hoje existe exatamente como um banco privado. Apresentou um plano a Bruxelas que foi o único que permitiu que a injeção de capital público existisse, e que a obriga a comportar-se tal e qual como um banco privado. Não pode ter ligações nem condições privilegiadas de qualquer espécie - acho que a expressão arm's length [à distância de um braço] está lá várias vezes - a nada, nem com nada que se assemelhe ao acionista que, neste caso, é o Estado", remata.