O fenómeno JPP na Madeira. Chegar ao Governo sem ser "noiva de ninguém" (e a guerra entre irmãos)
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Foi em Gaula, uma freguesia do concelho de Santa Cruz, na Madeira, que nasceu o Juntos Pelo Povo (JPP). Primeiro como movimento de cidadãos e desde 2015 como partido político. O cabeça-de-lista, Élvio Sousa, espera chegar ao Governo, "numa alternativa a esta estrutura viciada", mas avisa que não é "noiva" de ninguém.
O JPP começou por vencer a Freguesia de Gaula, seguiu-se a câmara do concelho e hoje conta com três deputados no Parlamento da Madeira. O objetivo é continuar a subir degraus, e a Assembleia da República também é uma possibilidade, embora o partido "não tenha celeridade em crescer demasiado".
Foi, precisamente, em Gaula que Élvio Sousa recebeu a TSF, no Miradouro Amadis de Gaula, com vista privilegiada para o Atlântico. O partido viu-se envolvido numa polémica recente, na elaboração da lista de candidatos às regionais, o que levou à demissão do antigo presidente Filipe Sousa (que é irmão de Élvio), e é por aí que começa a conversa.
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O cabeça-de-lista e secretário-geral do partido esclarece que "não está brigado com o irmão", como "está a ser manhosamente aproveitado" pelo PSD. Élvio Sousa garante que o irmão até tem participado na campanha eleitoral, "dentro das suas possibilidades", e prefere focar-se nos objetivos eleitorais para "retirar a maioria absoluta" do poder.
Cerca de "99 por cento dos militantes" do JPP nunca estiveram noutro partido, o que explica o crescimento na Madeira, e nas legislativas de 2022 também estiveram perto de eleger um deputado à Assembleia da República. Élvio Sousa admite que esse é um dos objetivos, mas sem definir prazos, já que o partido "não tem celeridade em crescer demasiado".
Nas ruas, o JPP sente que "as pessoas querem uma mudança", apesar de as sondagens indicarem que a coligação que governa a Madeira está perto de repetir a maioria absoluta. O PSD está no poder há quase 50 anos, um caso único na Europa, o que leva Élvio Sousa a recordar as palavras de Alberto João Jardim: "Na Madeira há uma máfia no bom sentido".
"Uma máfia no bom sentido é uma rede tentacular de interesses e favorecimentos entre política e negócios, que muito ou raramente são investigados pelo Ministério Público", explica.
O cabeça de lista pelo JPP lembra que, em 2015, Miguel Albuquerque prometia separar a política dos negócios, "o que não aconteceu" e existem "violações claras do que deve ser a neutralidade do Governo regional".
Questionado se o JPP está disponível para dar a mão ao PSD ou ao PS, caso não exista uma maioria na Madeira, Élvio Sousa garante que o partido "não é noiva de ninguém" e remete uma resposta para o dia seguinte às eleições. Ainda assim, defende que os partidos do sistema "são farinha do mesmo saco".
"O PSD já deu o tinha a dar, são 47 anos. Nós temos políticas reformistas, como a redução da despesa pública até 15 por cento e o emagrecimento da estrutura do Governo. Nenhum partido tradicional deseja mexer nestes exemplos", lamenta.
