O inferno escondido das Maldivas e a startup que está a tentar salvar o paraíso
Em muitas ilhas das Maldivas, o lixo é queimado a céu aberto. Responsabilizar as empresas produtoras de plástico pode ser um caminho para financiar uma gestão de resíduos amiga do ambiente.
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Quando pensamos nas Maldivas, imaginamos praias de areia branca e águas transparentes. Essa, diz Paolo Facco, é a fotografia que os resorts de luxo passam ao mundo, mas nos locais onde realmente vivem pessoas, o lixo transforma o cenário paradisíaco num inferno de chamas.
"Os resorts têm muito dinheiro e conseguem ligar com o seu lixo (onde este lixo acaba é outro assunto... mas ao menos não está visível). Se formos à capital Malé ou outros atóis onde vivam locais a situação é totalmente diferente: em muitas ilhas o lixo é recolhido e simplesmente queimado perto da praia."
"É uma pena. As Maldivas têm um ecossistema incrível, é um paraíso", lamenta o representante da Adelphi, um think-and-do tank com sede em Berlim, na Alemanha, que desde março de 2021 está trabalhar em conjunto com a ONG Zero Waste Maldives para ajudar o arquipélago a gerir melhor o lixo, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
A proposta desta startup é implementar uma política de Extended Producer Responsibility (EPR) - responsabilidade estendida do produtor - nas Maldivas, que obrigue "os produtores de bens em plástico ou as empresas que produzem materiais para embalagens de plástico a assumir a responsabilidade pela gestão do lixo gerado pelos seus produtos".
Em declarações à TSF à margem da Conferência dos Oceanos, Paolo Facco conta que o primeiro passo foi compreender a realidade local - quanto plástico é gerado e quem são os decisores. Agora, esta startup está a trabalhar diretamente com o Governo das Maldivas para definir um plano de ação que responsabilize o setor privado pela gestão do lixo que o consumo dos seus produtos acaba por produzir.
Por exemplo, "se uma empresa põe no mercado uma garrafa PET tem de pagar uma taxa específica para assegurar a recolha, transporte e reciclagem dessa garrafa."
"Este conceito já é aplicado há décadas em vários países na Europa, em países como Espanha, Alemanha ou França, mas nos países em desenvolvimento é difícil porque não têm um bom sistema de gestão do lixo", explica.
As Maldivas têm uma característica particular que torna tudo mais difícil: é um arquipélago constituído mais de mil ilhas, cerca de 200 habitadas, pelo que "o transporte de materiais entre diferentes ilhas é muito caro, já que é feito em pequenos barcos e o preço da gasolina é muito elevado", explica Paolo Facco.
"Vivemos numa economia baseada em plástico, em que tudo tem de ser embalado, e as pessoas não conseguem lidar com o lixo que produzem", lembra. A gestão de resíduos é dispendiosa e os governos de muitos países não têm dinheiro suficiente para implementar sistemas sustentáveis, por isso responsabilizar o setor privado pode ajudar.