As lavandas, conhecidas por alfazemas, pintam de púrpura os campos da quinta de Estevão de Moura que criou um dos turismos mais visitados do país. O vinho também pode ser cerveja ou perto, mas ainda não vai estar à venda no Quiosque do Carmo.
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A presidência da Imprensa Nacional Casa da Moeda foi dos cargos mais visíveis que Estevão de Moura ocupou na sua vida quase toda dedicada ao serviço público. Caixa Geral de Depósitos, Associação Industrial Portuguesa e Instituto de Participações do Estado, mas há cinco anos deixou Lisboa com a sua mulher Teresa para se lançar num sonho que acabou por cumprir: a Quinta das Lavandas.
Durante meses pesquisaram uma localização na zona de Castelo de Vide e quando se preparava para fechar negócio viram uma propriedade que, confessam, "foi amor à primeira vista".
O passo seguinte foi pensar o que poderiam fazer naquela propriedade inserida Parque Natural da Serra de São Mamede. A descoberta veio com um panfleto norte-americano e a proposta era a plantação de lavandas, por cá conhecidas como alfazemas, como diria Estevão, "primas do rosmaninho".
A partir daí, plantaram seis hectares de duas variedades de lavanda o que torna a quinta a maior coleção existente em Portugal. A planta produz óleos essenciais e produtos tradicionais resultantes dos derivados. O mel, por exemplo, tem perfume de Lavanda. Além do olival secular, há um pomar, uma pequena vinha e está em preparação um horto para obter os produtos base para consumo na quinta.
A Quinta das Lavandas tem sete quartos e uma casa em pedra no meio da plantação, para quem quiser mais privacidade.
Vinho-cerveja
Tudo parece ter começado pela parceria entre a Quinta do Portal e a Cervejeira Letra. A ideia foi utilizar barricas de vinho do Porto fazer passar a cerveja e criar um néctar diferente que se destacasse no mercado. Parece que a associação correu bem e o resultado foram várias cervejas cerveja maturadas em cascos de vinho do Porto. O projeto tinha sido apresentado em Vila Verde, Braga, onde os cervejeiros Francisco Pereira e Filipe Macieira fazem cerveja com métodos de fabrico artesanais.
Mas o improvável aconteceu. Os barris regressaram à Quinta do Portal e o enólogo Paulo Coutinho resolveu aproveitar os sabores que regressaram para produzir um vinho branco que se vai chamar "UNLOCKED WINEBEER" e que é a surpresa do jantar marcado para 19 de outubro na Quinta do Portal juntamente com a Letra.
No Largo do Carmo não se fala só inglês e francês
O Quiosque do Carmo é uma referência para quem trabalha na zona e ainda para os moradores que restam nas imediações. À primeira vista o Largo do Carmo é um dos sítios mais turísticos (e confirma-se) de Lisboa, mas quem o conhece bem sabe de pequenos segredos nas proximidades como o pequeno restaurante que continua igual há anos, a tasca que ainda se mantém, o café tradicional, a Sapataria do Carmo. O quiosque é um ponto de encontro onde a simpatia dos empregados, apesar do rebuliço, contrasta com a restauração centrada no turismo.
O Mário Pinto mora por ali há mais de 50 anos e, apesar das propostas, jura que não vende a casa que já era dos seus pais. Brincou, jogou à bola no largo, cresceu com os amigos por ali, para mais tarde se dedicar a uma profissão que, mal sabia, não tinha futuro: litografia.
Não desarmou e hoje atende os clientes nas línguas que eles falarem. Pode demorar mais ou menos, mas não ficam sem ser atendidos. E até pode falar uma que pouca gente o entenderá: a língua dos "is".
No Quiosque do Carmo passam turistas, muitos, mas há os pormenores da Lisboa antiga que se mantêm teimosamente como se disso dependesse a vida da própria cidade.