"O país está às escuras." Marcelo, Costa e grandes figuras da música recordam Carlos do Carmo
Fadista de 81 anos morreu esta sexta-feira, vítima de um aneurisma na aorta.
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O presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República e várias grandes figuras da música nacional já reagiram à morte do fadista Carlos do Carmo, esta sexta-feira, aos 81 anos.
Em declarações em direto na TSF, Marcelo Rebelo de Sousa fala de "uma perda nacional".
"Associávamos Carlos do Carmo à ideia de eternidade. Sabemos que as pessoas não são eternas mas ele resistiu a tanto em termos de saúde e com a sua juventude de espírito, com a sua capacidade de se recriar. Continuava a fazer-nos acreditar que ia durar infinitamente".
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Para o Presidente da República, Carlos do Carmo foi "uma voz decisiva na consagração do fado como Património Imaterial da Humanidade" e uma figura admirada por "gerações consecutivas", tanto antes como depois do 25 de Abril.
Carlos Carmo "nunca deixou de se dar", deu sempre mais um concerto, resistiu às fragilidades da saúde e superou os seus limites físicos. E "como pessoa conseguia ser maior ainda do que como figura da cultura", destaca Marcelo Rebelo de Sousa.
No Twitter, António Costa também já reagiu à morte de Carlos do Carmo, destacando-o como "um notável fadista, que o público, a crítica e um Grammy consagraram."
O primeiro-ministro assinala ainda o "contributo" para a música portuguesa na forma como Carlos do Carmo "renovou o fado e o preparou para o futuro."
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O primeiro-ministro, António Costa, também lembrou a "cumplicidade política" que se tornou "numa bela amizade" com Carlos do Carmo e considerou que o artista foi decisivo para libertar o fado e reconciliá-lo com a democracia.
"Foi fundamental para reconciliar o fado com a nossa democracia e libertá-lo da ideia tão errada da tentativa de apropriação por parte do Estado Novo. Foi decisivo para essa libertação", disse António Costa.
Também o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, manifestou o seu pesar pela morte do fadista, que recordou como "um nome ímpar" do fado e como "figura relevante" na luta pela liberdade.
"Carlos do Carmo é, inquestionavelmente, um nome ímpar do fado e figura incontornável do meio artístico e da canção portuguesa, numa carreira de décadas que perdurará na memória de todos nós", refere Ferro Rodrigues numa mensagem enviada à agência Lusa.
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Por sua vez, a A ministra da Cultura, Graça Fonseca, recordou Carlos do Carmo como "uma figura fundamental no meio do fado", que sempre procurou inovar.
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Já o maestro António Vitorino de Almeida diz que "a cidade e o país estão às escuras" com esta perda.
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Carlos do Carmo era "um homem extraordinário" e "verdadeiramente bom", destaca o músico. Era "um mestre" ao nível de Frank Sinatra, que "irradiava um saber sereno".
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À TSF, José Cid conta que conheceu Carlos do Carmo nas festas da Batalha, quando lhe emprestou uma aparelhagem, já que a do fadista avariara devido à chuva.
Como cantava o fadista, "por morrer uma andorinha, não se acaba a primavera'" - Carlos do Carmo "era uma andorinha que voou alto", a primavera é a obra que vai ficar, compara o músico.
Amália Rodrigues e Carlos do Carmo eram "os grandes nomes do fado português", destaca.
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Também o musicólogo Rui Vieira Nery considera que Carlos do Carmo foi o fadista mais influente depois da geração de Amália e lembra se tratava de um músico "amado pelo público" e inovador.
"No fado foi um fator de inovação constante, um homem que foi passando fronteiras constantemente novas, motivado novos compositores e novos poetas a criarem fados, experimentando soluções e misturando géneros."
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Em direto na TSF, o músico Miguel Guedes recorda o fadista como "um companheiro de vida".
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Carlos do Carmo teve um papel "absolutamente fulcral" dentro e fora do fado, afirmou à agência Lusa o músico e compositor Sérgio Godinho. "Sempre achei que, ao mesmo tempo que é 'fadista de gema', ele é mais do que isso, é um cantor. Não é um fadista característico, como o [Alfredo] Marceneiro, é alguém com outro tipo de formação e que renovou dentro do fado e tem um papel absolutamente fulcral", afirmou.
O guitarrista António Chaínho, que acompanhou Carlos Do durante 25 anos, até 1991, salientou "o bom gosto musical" do fadista, "o cuidado com a escolha de repertório" e a sua atitude em palco.
Em declarações à Lusa, Lusa recordou o espetáculo em Bordéus, França, onde o músico teve um acidente e partiu várias costelas. "Foi mesmo a terminar o espetáculo, estava a cantar 'Lisboa, Menina e Moça', e, mesmo depois da queda, fez questão de fechar o espetáculo", recordou.
Pedro Abrunhosa descreve Carlos do Carmo como "uma das figuras mais importantes da figura portuguesa (...) um vulto imenso na história da cultura portuguesa" que mudou o fado.
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Também Simone de Oliveira, em declarações na SIC Notícias, recorda "o amigo de uma vida inteira", além de "um cantor extraordinário" que dignificou a música portuguesa além-fronteiras.
A cantora Simone de Oliveira realçou a carreira internacional do fadista Carlos do Carmo, e a dimensão que atingiu, da qual "os portugueses não têm noção", como afirmou à agência Lusa.
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Para Sara Pereira, diretora do museu do Fado, Carlos do Carmo era "um grande mestre" para várias gerações e "uma voz central da nossa cultura musical contemporânea".
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Mariza recordou Carlos do Carmo como "um bom amigo, homem generoso, inteligente, observador, muito curioso, e que gostava de partilhar". Em declarações à agência Lusa, a fadista recordou o apoio de Carlos do Carmo à sua carreira, afirmando que tinha sido seu "mestre sem o saber", logo no início do seu percurso.
No Twitter, o presidente do PSD, Rui Rio, recordou Carlos do Carmo como "um grande vulto da música portuguesa", e considerou que "a sua obra não morreu, nem nunca morrerá".
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E no Facebook, presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, definiu o fadista como "a voz" da cidade, que "não o esquecerá".
https://www.facebook.com/fernandomedina.pcml/posts/1704168016431600
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) manifestou "enorme consternação" pela morte do fadista. Citado numa nota da FPF, publicada no site oficial da federação, Fernando Gomes afirmou que o nome do fadista "confundia-se com o fado", depois de se ter afirmado "como uma referência da música e da cultura não apenas portuguesa mas também internacional" ao longo de mais de cinco décadas.
O cantor e compositor Fernando Tordo lamentou também a morte de Carlos do Carmo, considerando que desapareceu "o mais jovem de todos os fadistas" com quem manteve 50 anos de amizade.
"Com este infeliz acontecimento desaparece o grande responsável pela transformação, pela modificação da autoria e da composição para fado", disse Fernando Tordo à agência Lusa.
Para Fernando Tordo, Carlos do Carmo - para quem compôs a primeiro tema em 1970 - desde o início "procurou, junto daqueles que na altura eram os mais jovens compositores portugueses, a transformação".
"Hoje desaparece essa pessoa, que terá sido o mais jovem de todos os fadistas. É uma perda muito grande", disse.
O DJ e produtor Stereossauro recordou a "tarde memorável" que passou com o fadista Carlos do Carmo a gravar uma nova versão de "O Cacilheiro", para um álbum que misturou fado, eletrónica e hip-hop.
A nova versão de "O Cacilheiro", tema incluído no álbum "Homem na Cidade", de 1977, composto por Paulo de Carvalho e escrito por Ary dos Santos, foi uma das últimas colaborações de Carlos do Carmo, que morreu hoje, em Lisboa, aos 81 anos.
"Cacilheiro", versão de Stereossauro, criada "com a ajuda do The Legendary Tigerman e do Ricardo Gordo, na guitarra elétrica e na guitarra portuguesa, respetivamente", faz parte de "Bairro da Ponte", álbum que o DJ e produtor editou no início de 2019 e onde "a tradição está enrolada com a modernidade e vice-versa", em 19 temas.
Stereossauro recordou à Lusa que o "grande responsável" e "grande arquiteto por detrás desta colaboração" foi um dos filhos do fadista, Alfredo 'Becas' do Carmo.
"Ele é que mostrou um tema [no qual Stereossauro usava um 'sample' de um fado de Carlos do Carmo] ao pai e sugeriu que fizéssemos alguma coisa juntos", partilhou. Os dois conheceram-se no dia em que Carlos do Carmo foi gravar as vozes. "Passámos uma tarde no estúdio e foi um momento memorável. Ele tem um carisma e uma presença, daquelas [pessoas] que entra numa sala e fica tudo calado só a ouvi-lo falar. Era uma pessoa que transmitia uma aura boa e uma calma", contou.
O Clube de Futebol "Os Belenenses" lembrou o "nome maior do fado e da cultura portuguesa" que era Carlos do Carmo, e os muitos anos de sócio do emblema do Restelo.
Numa nota assinada pelos atuais órgãos sociais do clube, é lembrado o passado associativo do fadista, que foi "candidato aos órgãos sociais do clube no início deste século", sendo mais tarde agraciado, em 2014, com um voto de louvor numa assembleia-geral.
"Como distinção pelo 'Grammy' [Latino] recebido e pela sua antiguidade como sócio", esclarecem no texto, publicado no 'site' oficial.
A pianista Maria João Pires recordou o fadista Carlos do Carmo como "um homem de grande dignidade e de grande cultura".
"Carlos do Carmo fica na minha memória como um artista verdadeiro, um homem de grande dignidade e de grande cultura... Vai-nos fazer falta a todos e deixar no nosso coração uma enorme saudade", escreveu Maria João Pires na rede social Instagram.
O PCP também expressou o seu pesar pela morte do fadista Carlos do Carmo e recordou-o como "cidadão com um percurso cívico e democrático".
"Carlos do Carmo, cidadão com um percurso cívico e democrático, com uma carreira artística de mais de 50 anos reconhecida no País e no mundo, intérprete de autores como Ary dos Santos, participante entre muitos outros na afirmação da dimensão cultural da Festa do «Avante!», cantor associado à sua cidade, deu uma contribuição particular à afirmação do fado como canção universal", pode ler-se no texto.
A candidata presidencial Ana Gomes destacou as qualidades de Carlos do Carmo como "homem das Artes e Cultura e como Cidadão" em reação à notícia da morte do fadista.
Numa publicação na rede social Twitter, Ana Gomes começou por escrever "RIP, querido Carlos do Carmo!" antes de avançar para os elogios ao artista que faleceu aos 81 anos no Hospital Santa Maria.
"Triste, acordamos neste primeiro dia de 2021 com a notícia da morte deste grande e único cantor!", expressou a ex-eurodeputada socialista e candidata à eleição de 24 de janeiro.
E terminou a publicação com um desejo: "que a sua militância como fadista, homem das Artes e Cultura e como Cidadão (com C maiúsculo) nos inspire para os desafios que este ano novo nos trará!".
RIP, querido Carlos do Carmo! Triste, acordarmos neste primeiro dia de 2021 com a notícia da morte deste grande e único cantor! Que a sua militância como fadista, homem das Artes e Cultura e como Cidadão (com C maiúsculo) nos inspire para os desafios que este novo ano nos trará!
- Ana Gomes (@AnaMartinsGomes) January 1, 2021
A candidata presidencial e dirigente do BE, Marisa Matias, recordou Carlos do Carmo como "um expoente máximo" da cultura e da reflexão sobre o país, considerando que a sua morte é "uma forma muito triste de começar" 2021.
"É uma forma muito triste de começar este ano de 2021. Falamos de uma pessoa que não foi apenas um expoente máximo da cultura, mas foi também um expoente máximo na reflexão, em ajudar-nos a pensar o país, ajudar-nos a construir um país melhor", afirmou Marisa Matias, questionada pelos jornalistas no final de uma visita à Casa do Lago, um centro de apoio a vítimas de violência doméstica em Lisboa.
"É sem dúvida uma falta enorme que nos fará o Carlos do Carmo", acrescentou.
Carlos do Carmo "é uma referência cultural e humana", afirmou Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do júri do Prémio Vasco Graça-Cidadania Cultural, que o fadista recebeu no ano passado.
"Soube sempre ligar a dimensão artística a um empenhamento cívico livre e solidário. A sua obra ficará para sempre gravada na nossa memória - como embaixador do Fado, um dos artífices da classificação deste como património imaterial da Humanidade pela UNESCO", afirmou à Lusa.
"Neste sentido, tenho muito orgulho em ter presidido ao júri do Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural do Estoril Sol que o galardoou com inteira justiça em 2020", rematou Oliveira Martins, também administrador da Fundação Calouste Gulbenkian e um dos nomes de referência do Centro Nacional de Cultura.
A União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) lamentou também a morte da "figura incontornável do fado" Carlos do Carmo, que considera um "herói da cultura".
Em comunicado, a UCCLA considera que Carlos do Carmo, "figura incontornável do fado e da música em geral", que morreu nesta sexta-feira, em Lisboa, aos 81 anos, "deixa um enorme legado na memória de todos".
O fadista Carlos do Carmo morreu esta manhã no hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde tinha dado entrada na quinta-feira com um aneurisma na aorta.
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