"O Porto é a minha matriz", Mário Cláudio é a partir de hoje Honoris Causa em casa
A Universidade do Porto atribui, esta quarta-feira, o título Doutor Honoris Causa a Mário Cláudio. O escritor, nascido na cidade Invicta, será distinguido pela obra literária, em que se destaca um olhar perspicaz, erudito e popular de uma cidade e de uma região.
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A atribuição do título de Doutor Honoris Causa a Mário Cláudio é justificada "pela vasta obra - mais de 60 títulos publicados nos últimos 50 anos - que torna o autor num dos escritores portugueses mais reconhecidos da atualidade e um dos que mais tem trabalhado 'a condição de ser português", anuncia uma nota da Universidade do Porto.
Pela parte que lhe toca, o escritor revê-se no perfil feito à medida. Por isso, encara a cerimónia de logo mais com um sentimento. Gratidão. Pelo reconhecimento do trabalho e pela validação do que foi feito ao longo de tantos anos. Mas não só.
"Também recebo este título com a alegria que dá sempre um estímulo para se continuar, enquanto houver força e talento, se é que existe algum talento, a fazer aquilo que temos feito toda a vida".
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Mário Cláudio recebe, esta tarde, o título de Honoris Causa, numa cerimónia onde vai estar presente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A distinção, da Universidade do Porto, é justificada pelo facto de ter desenvolvido "a sua obra literária em torno da Invicta e da região Norte, captando com invulgar perspicácia a matriz social e cultural, económica e política da cidade, através de uma escrita de filigrana, plena de erudição e, simultaneamente, de fala popular. Tal e qual, diz o próprio.
"Se realmente a escrita é assim, é natural que eu seja também um pouco assim. Portanto revejo-me perfeitamente nessa caracterização".
Sobre Mário Cláudio é também destacado o "empenho na colaboração cívica que desenvolve, muito frequentemente a partir da cidade onde nasceu e vive, reconhecendo-o um intelectual cujo pensamento independente lhe confere uma voz diferenciada em prol do bem comum". Assim, a ligação à cidade berço, o Porto, também é ponto de destaque. E tinha de ser.
"O Porto é uma matriz e é necessariamente algo que funciona como elemento de auto-reconhecimento. A cidade identifica-me e eu identifico-me com a cidade".
Na literatura, escreveu de tudo um pouco, com destaque para o romance, mas houve tempo para escrever mais, para textos de opinião, séries documentais, artigos na imprensa, e prefácios. Não falta fazer nada. Só mais.
"Cada um desses trabalhos correspondeu a uma presença naquele momento em que o trabalho foi feito. Não foi uma acumulação, foi um acompanhamento daquilo que se ia passando e também dentro de mim".
Aos 78 anos, Mário Cláudio define-se como "um curioso sempre atento e de olhares abertos". Ao longo da carreira de meio século publicou mais de sessenta títulos. Nas gavetas há obras por acabar, outras acabadas, mas escondidas. Desistir, é que nunca.
"Eu não sou um homem de desistir, de virar as costas à realidade. Sou um homem de persistir. Não valorizo a teimosia como uma qualidade humana, mas valorizo a tenacidade, que é uma coisa diferente".
Olha para trás e não escolhe com facilidade um livro que se destaque. Tudo tem o seu momento.
"Às vezes escreve-se uma página e de repente essa página foi a que nos agradou mais ao longo de toda a vida, mas depois vamos relê-la um tempo mais tarde e já não é a mesma coisa. A minha tendência é sempre para oscilar, enquanto vou escrevendo, entre algum entusiasmo, alguma prudência e às vezes também alguma deceção".
Mário Cláudio é o pseudónimo que escolheu para si Rui Manuel Pinto Barbot Costa. Dois em um. Na escrita e na vida.
"Cada um de nós é composto de muita gente, pelo menos é assim que eu me sinto. Sou muitos".
Mário Cláudio foi objeto de várias distinções a nível nacional e internacional. Destacam-se a atribuição do Prémio Pessoa em 2004, das comendas da Ordem Militar de Sant"Iago da Espada (2000), de Chevalier des Arts et des Lettres (2006) - atribuída pelo Ministério da Cultura de França - e da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2019).