A TSF "mergulhou" nos 14% que sobraram de uma das joias da coroa da floresta portuguesa. Estado promete avançar com gestão dos combustíveis em breve.
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Muito pouco mudou nos 14%, cerca de 1.500 hectares, que restaram do incêndio florestal que devastou há um ano a histórica Mata Nacional de Leiria, também conhecida como Pinhal do Rei.
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A falta de limpeza continua a ser muita, como se vê ao visitar o terreno, sendo ainda denunciada à TSF pela associação ambientalista Quercus, pela Associação de Promoção ao Investimento Florestal e pelo movimento de cidadãos "O Pinhal é Nosso" que se juntou depois das chamas para defender a mata.
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O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que em nome do Estado gere as matas públicas, admite que no terreno pode parecer que quase nada foi feito porque a maioria do que não foi consumido pelas chamas continua sem limpeza, mas sublinha que foram feitos muitos trabalhos mais prioritários e que a gestão dos combustíveis em maior volume só vai arrancar agora terminados os concursos públicos.
Florestas de acácias. Caminhos para travar o fogo sem limpeza
Há aceiros da chamada rede primária, os maiores previstos na lei para travar a propagação das chamas em caso de incêndio, que deviam estar limpos numa faixa de 125 metros mas não estavam a 15 de outubro de 2017 nem estão hoje nas zonas intactas.
Várias áreas de pinheiros têm, como tinham há um ano, uma evidente falta de limpeza ou, segundo o jargão técnico, uma falta de gestão de combustíveis visível nos matos e nas acácias com frequência com cinco ou seis metros, naquilo a que Domingos Patacho, engenheiro técnico florestal e ambientalista da Quercus, chama uma verdadeira floresta de acácias, ótima para a progressão das chamas.
Falhas que também já foram constatadas pela Associação de Promoção ao Investimento Florestal (Acréscimo) cujo presidente, Paulo Pimenta de Castro, defende que o Estado tem de fazer uma intervenção urgente, algo que já devia estar feito há anos e sobretudo depois da 'lição' do ano passado que devastou 86% da histórica floresta.
Rui Graça, um dos representantes do movimento de cidadãos "O Pinhal é Nosso" tem idêntica opinião e diz que o Estado nada fez desde que há um ano a Mata Nacional de Leiria foi arrasada pelas chamas: "Nos sítios que arderam não fazem nada e onde não ardeu também continuam sem nada fazer, a não ser através dos populares ou por entidades privadas".
Todos sublinham que a falta de limpeza nos 14% que restam do pinhal aumenta fortemente o risco de um novo incêndio, sendo que na última semana já se registaram dois fogos que foram controlados e que o outono continua com temperaturas quentes para a época, tal como há um ano.
Problemas não se resolvem "num estalar de dedos"
O presidente do ICNF garante, no entanto, que as soluções não são tão simples como parecem. Rogério Rodrigues argumenta que muito foi feito nos 9.500 hectares que arderam na Mata Nacional de Leiria, mas também nos 1.500 que ficaram intactos.
Em primeiro lugar, destaca, foi preciso garantir a segurança das muitas pessoas que passam por ali. Depois foi preciso marcar e vender a lenha que ardeu, além de avançar com a gestão de combustíveis em 40 hectares mais próximos de habitações ou estradas.
O problema é a maioria dos hectares que continuam por limpar, tendo sido preciso esperar pelo fecho dos concursos públicos que só recentemente foram concluídos.
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O responsável do ICNF admite que falta fazer intervenções de gestão dos combustíveis em mais de mil hectares e é possível que pareça que nada foi feito quando se anda pela zona, mas é injusto dizê-lo porque muito foi realizado na sombra, estando para breve a limpeza em muitos terrenos que não arderam.
Rogério Rodrigues afirma que os processos de contratação pública têm prazos e é normal que demorem tempo, "não sendo num estalar de dedos" que tudo se resolve, recordando que "somos função pública" e não é possível agir como numa empresa.