O que é e como vai funcionar? Conheça o Grupo Vita, criado pela igreja para vítimas de abusos sexuais
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A igreja Católica apresentou, esta quarta-feira, o Grupo Vita - Grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal. Um projeto que surge na sequência da investigação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, que validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, e pretende não só ajudar as vítimas mas também tratar de novos casos que possam acontecer.
"Vimos como a primeira comissão independente fez o seu trabalho, que causou muito impacto para conhecer a realidade dramática destes abusos. Conhecer quem são, a realidade das vítimas dos abusos foi a nossa prioridade. Agora queremos saber quais os caminhos que se impõem para tratar bem casos que venham a acontecer, mas sobretudo para criar competências dentro da igreja para que, o mais possível, possamos prevenir e tratar o que possa acontecer", explicou José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, na conferência de imprensa de apresentação do Grupo Vita.
Com este novo projeto, definido pelos responsáveis como sendo "isento, autónomo" e para "acolher, escutar e prevenir as situações de abuso sexual de crianças no contexto da igreja católica em Portugal", José Ornelas acredita que a igreja entra numa nova fase.
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"Com a primeira fase da comissão de estudo ficou clara a nossa determinação de não fechar os olhos perante esta realidade, de afirmar a nossa determinação, de termos aquilo a que o papa Francisco chama de 'tolerância zero', que significa compromisso de tornar possível que isso aconteça, não é simplesmente ter em conta o mal que já aconteceu. É prevenir para que não volte a acontecer. Este grupo é da igreja em Portugal, no seu conjunto, e quer fazer o seu caminho", disse o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Porquê o nome Grupo Vita?
A psicóloga Rute Agulhas explicou que o nome surge do latim "vida", associado a fatores como a aprendizagem, mudança e superação.
"Reparando, na medida do possível, os danos causados. A violência sexual contra crianças e adultos especialmente vulneráveis é um problema de saúde pública", esclareceu Rute Agulhas.
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Como funcionará?
Apesar de ser autónomo, José Ornelas explicou que o funcionamento do Grupo Vita será articulado com as equipas diocesanas, ou seja, um trabalho conjunto entre a comissão de especialistas com a igreja católica.
"Esta é uma comissão que tem as suas próprias competências definidas. É um grupo virado para ter uma vertente operativa clara dentro da igreja e precisa de ter uma face de acolhimento bem autónomo e definido perante as vítimas e perante a sociedade, mas ao mesmo tempo tem de articular-se para dentro de igreja de uma forma eficiente para que se possa coordenar os aspetos de acompanhamento de vítimas, acolher e tratar convenientemente esta situação", afirmou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Qualquer pessoa poderá contactar o Grupo Vita por telefone - disponível 24 horas por dia - ou por e-mail.
"O contacto das pessoas connosco pode ser feito através deste número de telefone: 915 090 000. É este o número que vai ficar disponível a partir do dia 22 de maio de 2023, em que se inicia este atendimento. Podem também contactar-nos através deste e-mail: geral@grupovita.pt", revelou Rute Agulhas.
Está também previsto um atendimento presencial caso o atendimento telefónico não seja possível ou o utente considere mais cómodo.
Quem faz parte do Grupo Vita?
É constituído por um grupo executivo e outro consultivo. O grupo executivo vai executar todas as ações centradas na psicologia, psiquiatria e serviço social e é composto por seis especialistas: Alexandra Ansiães, psicóloga com experiência em avaliação e intervenção com vítimas, adolescentes e adultas, e agressores sexuais; Joana Alexandre, psicóloga e docente universitária com experiência na investigação na área da prevenção primária do abuso sexual; Jorge Costa, assistente social com experiência em avaliação e intervenção junto de crianças e jovens em perigo e das famílias; Márcia Mota, psiquiatra, especialista em sexologia clínica e com experiência na intervenção terapêutica com agressores sexuais e Ricardo Barroso, psicólogo e docente universitário com experiência na investigação e intervenção terapêutica com pessoas que cometeram crimes de natureza sexual.
Do grupo consultivo, a que estes seis especialistas vão recorrer sempre que for necessário, farão parte advogados, sociólogos e um padre especialista em direito canónico. Segundo Rute Agulhas, este grupo será "aberto e dinâmico".
"Um grupo técnico igualmente isento e autónomo constituído apenas por leigos, especialistas na matéria, focado na intervenção terapêutica e prevenção de futuras situações abusivas. Tudo faremos para corresponder às expectativas", sublinhou a psicóloga forense.
