Neste 19 de novembro, o calendário assinala o Dia Mundial da Filosofia e, neste período tão intensamente marcado pela política, lembramos o que pensou e escreveu Maquiavel.
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Lídia Cardoso Pires, professora de Filosofia Política na Universidade do Porto, lembra que Maquiavel fazia uma leitura cínica da humanidade: os homens eram medíocres e por isso o político não podia ser ajuizado pelo critério ético. "Ele tinha que ser sobretudo alguém que, em nome da defesa do Estado, fizesse o que tinha a fazer para o defender. E daí a velha máxima que só se aplicava à política: os fins justificam os meios", sublinha.
Para Maquiavel, a mentira era aceitável, se fosse para defender o Estado. Ele "achava que um político devia ser temido e, de preferência, amado", lembra a professora, que acrescenta: "Um político não se podia dar ao luxo de ser odiado porque senão não se mantinha no poder, porque as pessoas revoltavam-se".
Será por isso que os políticos prometem em campanha aquilo que sabem que não podem cumprir? "Podemos dizer que isso é uma estratégia maquiavélica, porque seria difícil que as pessoas elegessem alguém que dissesse que ia cortar nos ordenados ou aumentar os impostos. As pessoas não gostam de ouvir isso. Eles normalmente preferem dizer o contrário, porque depois quando lá estiverem, se tiverem que o fazer, fazem-no".
Outro conceito inovador no pensamento do filósofo do século XVI é o de propaganda, "a mostrar a necessidade absoluta dos políticos passarem uma imagem que é aquela que o povo deseja, para poderem ser amados, poderem mobilizar e ter o povo do seu lado".
Lídia Cardoso Pires sublinha que em contexto democrático a ideia de que os fins justificam os meios não se aplica. Mas Maquiavel mantém-se atual sob muitos outros pontos de vista. Afinal, "O Príncipe" é uma obra conhecida como tendo lançado as bases do pensamento político moderno.