Na noite de 15 de outubro, o padre Morais estava a chegar a casa. Estava longe de imaginar que nessa noite as chamas iam pintar Folgosinho de outra cor.
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Quando o fogo chegou, o padre Morais estava em casa, em Folgosinho. Tinha chegado nem há cinco minutos quando tocou a sirene dos bombeiros. Viu no cimo da serra um clarão, mas nunca imaginou o que viria a acontecer.
Pouco tempo depois, as chamas entravam na aldeia. Não havia telefones, nem internet, nem luz, nem água. Não se podia entrar nem sair da aldeia. "Só tivemos tempo de fugir. Não tem explicação", lembra, "foi um inferno".
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E o que faz um padre quando enfrenta o inferno? "Está com eles. E vive a angústia deles, E anda às voltas a ver quem precisa de ajuda. Sobretudo, vamos tentando manter a esperança de recuperação".
A Fé não saiu abalada, "não foi Deus que quis, foram as asneiras dos homens que fizeram isto". Nem em horas de aflição a população de Folgosinho questionou. "Questionei mais eu do que eles".
Agora preocupa-se com as aves, que tão cedo não terão uma árvore para fazer ninho. E os rios, contaminados de cinzas e destroços. E o negro com que Folgosinho acorda todos os dias, que invadiu também os folgosinhenses. "Estamos todos negros por dentro". E apagar o negro por dentro não é fácil. "É preciso semear verde nos olhos e no coração".
Em terra de pastores, o padre Morais tenta orientar o seu rebanho. Dar ânimo e apoiar.
A recuperação, avisa, vai ser difícil. É preciso ser realista. "Mãos sujas e terra revolvida", garante, "mãos limpas de gabinete, com projetos lindos, não vão a lado nenhum."
(Siga aqui a Emissão Especial TSF Incêndios 2017 - A reconstrução contra o esquecimento)