Milhares de peregrinos caminham até Fátima vindos de todo o país. Para quem vem do Norte, o caminho faz-se principalmente nas bermas do IC2 ou da antiga N1, onde os acidentes são frequentes.
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Há pouco mais de um ano, em Cernache (Coimbra), cinco peregrinos foram atropelados mortalmente, enquanto caminhavam de madrugada. No local, uma das duas faixas de rodagem dos automóveis foi encerrada para dar passagem aos peregrinos, mas o local continua a ser perigoso em caso de despistes ou saídas de mão.
O percurso do caminho de Santiago pode ser uma alternativa e está inclusivamente marcado a azul no sentido contrário, indicando Fátima. Mas, porque fica mais longe, a grande parte dos peregrinos continua a preferir arriscar.
Humberto Braga está estacionado em Cernache, para dar apoio a um grupo de peregrinos de Paredes, a poucos metros da curva do IC2 onde há cerca de um ano nove peregrinos foram atropelados. "Foi aqui mesmo em baixo. Há aqui uma zona que é perigosa. Eles vinham de madrugada". Por isso garante: "nós nunca caminhamos de madrugada, caminhamos sempre de dia".
No grupo de 80 peregrinos vem Glória Carneiro, de Paços de Ferreira. Encontramo-la de olhos postos na estrada. "Tem de se ter cuidado. Tenho uma amiga que vem comigo e que está sempre a fazer-me o gesto de ir para a beira, porque por vezes vou a cantar e vou meio distraída", confessa.
E é dessas distrações que fala Mário Sousa, ao fim de 90 km de caminho, vindo de Santa Maria da Feira. "Há pessoas que respeitam, outras não. Ainda há falta de civismo por parte dos condutores, mas também há de quem caminha. Por vezes vejo peregrinos que estão a ver os carros e se mantêm na faixa de rodagem. Há de tudo", garante.
António Taveira parou no local do acidente do ano passado para rezar pelas cinco vítimas mortais. Aponta uma alternativa ao IC2 para quem vem do norte: "fiz os caminhos de Santiago ao contrário. Acho que toda a gente devia fazer isto para fugir deste barulho e deste perigo".
À medida que os peregrinos passam pelo local deixam flores, velas, coletes ou bonés para lembrar as vítimas, que faziam parte de um grupo de 80 peregrinos de Mortágua. Nove foram atropeladas, quatro faleceram no local e uma morreu a caminho do hospital. Os peregrinos continuam, com intensidade, a passar no local. Só entre Cernache e Coimbra, cerca de 10 km, a TSF contou 243 caminheiros.