"O Salvador é um bebé igual aos outros." Missão cumprida no parto de uma mãe em morte cerebral
O bebé nascido esta quinta-feira "31 semanas e seis dias e 1,7 quilos", após três meses de morte cerebral da mãe e apresenta a saúde de "qualquer outro prematuro com igual tempo de gestação".
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Cinquenta e seis dias depois de ter sido declarada a morte cerebral da mãe, a gravidez terminou com o nascimento de Salvador, como anunciou, ao final da manhã, em conferência de imprensa, Carlos Lima Alves, diretor clínico do Hospital de São João, no Porto: "O Salvador nasceu com trinta e uma semanas e seis dias, um quilo e setecentos gramas e 40 centímetros. Apresentou no momento de nascimento significativa dificuldade respiratória". Com o passar das horas, o bebé encontra-se estabilizado.
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A gravidez terminou com sucesso. O parto, que estava programado para amanhã, foi antecipado um dia devido a deteriorações respiratórias que colocavam em causa os padrões de oxigénio da mãe. Ligada às máquinas, a jovem de 26 anos suportou até esta madrugada o crescimento do filho. Teresa Honrado, do Serviço de Medicina Intensiva, explicou os principais desafios das últimas semanas.
"O nosso desafio era manter este corpo e estes órgãos viáveis. Isso passou por garantir uma estabilidade hemodinâmica, respiratória, metabólica e evitar os principais problemas decorrentes do estado de morte cerebral, nomeadamente disfunções hipofisárias, causando grandes distúrbios metabólicos. Este era o principal problema da mãe".
A mãe de Salvador sofreu, no final do passado mês de dezembro, um ataque de asma que provocou uma baixa de oxigénio brusca, provocando-lhe a morte cerebral. Marina Moucho, do Serviço de Obstetrícia, diz que apesar dos riscos, o tempo foi passando sem sobressaltos.
"O bebé foi monitorizado todos os diariamente, fez ecografias, inclusivamente fez uma ressonância magnética para avaliarmos a parte imagiológica cerebral e nunca nos deu sinal que alguma coisa estivesse a correr mal, por isso se manteve a gravidez".
A avó materna e o pai de Salvador acompanharam de perto todo o processo ao longo dos cinquenta e seis dias, sempre com apoio psicológico, que vai continuar nos próximos tempos. De Hercília Guimarães ouviram, até agora, um prognóstico favorável, nas primeiras horas de vida do bebé, que dentro de um mês, poderá sair do Serviço de Neonatologia, conforme refere a diretora, "talvez daqui a três semana, um mês, até lá já avisei que não contem com o bebé. Vamos ver, ele agora vai perder peso, vai aprender a mamar, portanto tudo depende como ela irá reagir à nossa intervenção".
Na conferência de imprensa, no Hospital de São João, esteve presente também um elemento da Comissão de Ética. Filipe Almeida disse que "houve sempre consenso entre a equipa médica multidisciplinar. Claro que questões éticas foram levantadas, mas os limites foram bem ponderados. Acima de tudo foi conseguido o mais importante, o nascimento do bebé".
Salvador nasceu de cesariana, e é considerado um bebé "moderadamente prematuro, que apresenta um potencial de risco", semelhante a qualquer outro nascimento com este tipo de gestação. O quadro clínico, em termos respiratórios, "está a melhorar". Quanto a possíveis sequelas decorrentes do episódio sofrido pela mãe, a equipa médica diz que ainda é cedo para dar como garantido, que não há nenhuma a assinalar. Por agora, o mais importante, afirmaram, "é viver um dia de cada vez", porque "o Salvador é um bebé igual aos outros, como garantiu Hercília Guimarães.