Óbitos por Covid aumentam. Pneumologista defende "atitudes proativas", médico de saúde pública fala em "situação expectável"
Em declarações à TSF, Filipe Froes afirma que é possível prevenir a doença, mas é preciso uma atitude diferente, nomeadamente, rastrear as águas residuais e promover a prescrição médica da vacinação. Já Bernardo Gomes não fica surpreendido com o aumento de mortes por Covid-19 no último mês e meio
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O número de casos de Covid-19 e de óbitos associados à doença está a aumentar. O Correio da Manhã escreve, esta quinta-feira, que desde o início de julho e até 10 de agosto, 121 pessoas morreram devido àquela doença em Portugal. Pelas contas do pneumologista Filipe Froes, o número de mortes praticamente duplica todos os meses desde março. Em declarações à TSF, Filipe Froes defende uma atitude diferente.
“Precisamos de ter atitudes proativas e uma dessas atitudes mais importantes - e que já foi adotada por diferentes países - é o rastreio das águas residuais. Mas há outras coisas importantes também a fazer, nomeadamente, estudar quem são estas pessoas que faleceram com Covid. Precisamos de saber a idade, os fatores de risco e o estado vacinal. Outra medida que me parece essencial é que, neste momento, a vacinação anti-Covid ainda não está no âmbito da prescrição médica", explica à TSF Filipe Froes.
O pneumologista afirma que "só as pessoas que estão englobadas nas normas da DGS podem ser vacinadas". No entanto, há "muitos outros doentes que querem ser vacinados, que têm outros fatores de risco e não são vacinadas".
"O tratamento com os fármacos antivirais também não é de fácil acesso e também devia ser de prescrição livre", avisa, sublinhando que há ainda muito a fazer.
Por isso, Filipe Froes deixa algumas questões à consideração das autoridades de saúde: "Será que começar a vacinação em setembro é a melhor opção para estas pessoas ou devíamos atrasar, ou adiantar, neste caso, para outubro a vacinação? E será que não devíamos promover a prescrição médica da vacinação e, sobretudo, incentivar a investigação no sentido de desenvolver vacinas com maior duração de proteção?"
Filipe Froes coordenou o gabinete de crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos. O pneumologista lembra que é possível prevenir a doença, mas, para isso, é preciso uma atitude mais proativa.
Por outro lado, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública não fica surpreendido com o aumento de mortes por Covid-19 no último mês e meio. Também ouvido pela TSF, Bernardo Gomes, adianta as razões que podem explicar este aumento.
"É uma situação expectável num contexto de um vírus cuja relação connosco ainda está no início e, na prática, o que acontece é que este vírus está a evoluir, como era também previsível, numa maior transmissibilidade e com um escape imunitário perante as variantes anteriores", afirma o médico, sublinhando que, "com a elevada transmissibilidade e com a juventude desta relação, a capacidade de contágio faz com que o vírus ultrapasse aquilo que é a perceção prévia da altura do ano em que existem mais infeções respiratórias".
"Na prática, o que acontece é que a transmissibilidade de outras infeções é bastante mais baixa e precisam de temperaturas mais baixas e de contextos sociais mais favorecidos para que exista essa transmissibilidade maior e até maior vulnerabilidade de quem está a ser infetado", acrescenta.