Oitenta jovens retirados das ruas no último ano, maioria dos casos associados à delinquência juvenil
De acordo com o Instituto de Apoio à Criança, através do Projeto Rua, a média de idade das crianças e jovens retirados das ruas baixou dos 16 anos para os 13.
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No último ano cerca de 80 crianças foram retiradas das ruas, na maioria dos casos associados à delinquência juvenil e cada vez em idades mais precoces.
A média de idade das crianças e jovens retirados das ruas baixou dos 16 anos para os 13. Os números são do Instituto de Apoio à Criança, através do Projeto Rua, que apoia crianças e jovens sem apoio familiar ou em situação de vulnerabilidade, promovendo a reinserção sociofamiliar.
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Matilde Sirgado, coordenadora do Projeto Rua, que se centra na Área Metropolitana de Lisboa mas tem cobertura nacional, diz que no último ano mudou o perfil das chamadas 'crianças de rua'. "Agora o conceito de crianças em situação de rua está mais ligado à delinquência juvenil. Há grupos de jovens e adolescentes que se associam na rua e que estão sem ocupação, sem um projeto de vida saudável. Pelo trabalho que desenvolvemos sobretudo na cidade de Lisboa percebemos que existem menos crianças em situação de rua no sentido clássico, mas há um aumento gradual de jovens com comportamentos ilícitos. Estes dados estão a ser analisados pelas forças de segurança e é uma tendência o envolvimento de jovens em gangues, em grupos, e o aumento da marginalidade e da criminalidade. Podemos mesmo dizer e até com uma faixa etária mais baixa, a média estava entre os 16,17 anos e baixou significativamente até entre os 13 ou 14 anos e isto é altamente preocupante."
Matilde Sirgado sublinha que muitos destes jovens fugiram de casa. "Estes adolescentes e jovens fazem uma rutura com o seu contexto familiar por vários problemas. Este fenómeno das crianças em situação de rua infelizmente continua a ser um fenómeno atual, este fenómeno está ligado às crianças desaparecidas, é uma das tipologias das crianças desaparecidas. Agora numa perspetiva mais ampla de análise, o que temos mais é um fenómeno das fugas de adolescentes. Estamos agora a fechar o relatório do último ano e chegamos a acompanhar cerca de 80 adolescentes e jovens nesta situação. É um número ainda expressivo."
A coordenadora do Projeto Rua defende que é prioritário apostar em medidas de prevenção e de integração destas crianças e jovens. "A maior incidência das medidas e políticas deve ser uma aposta na prevenção, integrar estes jovens em projetos educativos. Por exemplo, o Instituto de Apoio à Criança criou a primeira escola de segunda oportunidade em Lisboa, já existe em outros pontos do país, e é uma grande oportunidade. Consideramos que não é a segunda mas é a principal oportunidade e para muitos deles é a última antes de engrossarem o sistema judicial. Há uma preocupação muito grande neste momento, das forças de segurança e também da segurança social, com a qual o IAC coopera com protocolos específicos, no sentido de estancarmos este problema, interromper percursos marginais atempadamente, esta é a grande preocupação".
O Projeto Rua do Instituto de Apoio à Criança está no terreno há mais de três décadas. Centra-se na área metropolitana de Lisboa, mas tem cobertura nacional. Esta quarta-feira, dia 12 de abril, é o Dia Internacional das Crianças de Rua.